terça-feira, 8 de abril de 2014



Crônica da Semana
Estaduais: Para quem mesmo?

André Alexandre Guimarães Couto


Fonte: <http://setedoses.blogspot.com.br/2012/04/morte-do-futebol.html>. Acesso em: 07/04/2014

A discussão em torno dos campeonatos estaduais parece não ter fim. A cada ano, a mídia esportiva e os torcedores percebem que os estádios estão muito vazios e a qualidade técnica, então, nem se fala.
Mas, teríamos soluções para tanto? Talvez não. Para vários jornalistas esportivos como Juca Kfouri, por exemplo, os estaduais não teriam mais espaço nos dia de hoje.
Concordo que os estaduais como o do Rio de Janeiro, por exemplo, são deficitários e com equipes em excesso. O paulista, inclusive, se superou com a fórmula de disputa atual, confusa e sem lógica. Porém, simplesmente acabar com os campeonatos regionais faria com que vários clubes pequenos, suburbanos e municipais ficassem sem recursos financeiros mínimos para sobreviver e para manter o seu elenco, dificultando ainda mais a profissão, que, para a maioria dos atletas, não tem muito glamour.
A torcida pequena dos clubes do subúrbio ou do interior é um dos problemas a serem enfrentados. Ou seja, é preciso criar estratégias de marketing para que o bairro e a cidade abraçasse o time, mesmo sabendo que o mesmo seria o segundo time do coração do torcedor. Para além da identificação sentimental clubística, poderíamos ter uma aproximação com o sentimento de pertencimento local e regional. Valorização não necessariamente criada ou inventada, mas ressignificada.
A final do Campeonato Paranaense, a despeito da incompetência dos clubes grandes da capital, é um bom exemplo da possibilidade de uma bela “festa do interior”, mobilizando duas cidades (Maringá e Londrina) em torno do futebol.
Mais: alguém duvida do sucesso de um estádio pequeno ao receber um clube grande, por exemplo? A transformação de um simples jogo de futebol em um evento local é um dos desafios do marketing esportivo que é ignorado e negligenciado por parte dos dirigentes de futebol.
Outro grande entrave para o desenvolvimento da qualidade técnica e organizacional destes campeonatos, principalmente em relação ao fator público, é o afastamento das arenas por conta dos pacotes de televisão a cabo. Em nome de um forte patrocínio, os clubes abrem mão do público no estádio. Obviamente, me faltam dados para avaliar a relação entre valor arrecadado com a transmissão televisiva x valor não arrecadado pela ausência de um maior público presente, mesmo porque este cálculo não é tão simples assim, tendo em vista os demais patrocinadores que querem ver a sua marca estampada para todo o estado e até para o Brasil.
Talvez, as duas formas possam conviver sem uma atrofiar a outra, desde que outras estratégias pudessem ser criadas, como a possibilidade de contratação mais homogênea, como o draft da NBA e a melhoria das instalações dos estádios e dos centros de treinamento dos clubes.
O que se percebe é que a questão dos estaduais não passa pela simplória discussão se são válidos ou não e sim por uma maior reformulação do futebol brasileiro. Negar a importância história destes torneios é esquecer que o futebol no nosso país se desenvolveu a partir das grandes rivalidades regionais e locais, além de todo um processo de interiorização da prática desportiva.
Em minha opinião, todavia, as fórmulas atuais não resolvem os graves problemas deste esporte e nem atendem os interesses dos clubes, sejam dos pequenos sejam dos grandes. Estes poderiam utilizar os estaduais, para realizar uma melhor preparação em torno dos campeonatos nacionais e internacionais vindouros, mas o que acabam fazendo é poupar os seus jogadores principais, como vem fazendo, por exemplo, o Atlético-PR e o Botafogo.
Enfim, a pergunta do título deste post, continua sem resposta: a quem interessa a permanência destes estaduais? Aos torcedores? De quais equipes? Será que os times grandes abririam mão destes torneios? Se isto acontecesse, quais seriam as consequências? Sem muitas respostas, lembro de um comentário do finado Carlos Eduardo Viana, o “Caixa D’água” (ex-dirigente por muitos anos da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro): o dia em que reduzirmos a participação dos clubes pequenos nos estaduais, os grandes vão se tornar pequenos, em um processo autofágico. Concordando ou não com a ideia, é para pensar.