Crônica da Semana
Estaduais: Para quem
mesmo?
André Alexandre
Guimarães Couto
Fonte: <http://setedoses.blogspot.com.br/2012/04/morte-do-futebol.html>.
Acesso em: 07/04/2014
A discussão em
torno dos campeonatos estaduais parece não ter fim. A cada ano, a mídia
esportiva e os torcedores percebem que os estádios estão muito vazios e a
qualidade técnica, então, nem se fala.
Mas, teríamos
soluções para tanto? Talvez não. Para vários jornalistas esportivos como Juca
Kfouri, por exemplo, os estaduais não teriam mais espaço nos dia de hoje.
Concordo que os
estaduais como o do Rio de Janeiro, por exemplo, são deficitários e com equipes
em excesso. O paulista, inclusive, se superou com a fórmula de disputa atual,
confusa e sem lógica. Porém, simplesmente acabar com os campeonatos regionais
faria com que vários clubes pequenos, suburbanos e municipais ficassem sem
recursos financeiros mínimos para sobreviver e para manter o seu elenco,
dificultando ainda mais a profissão, que, para a maioria dos atletas, não tem
muito glamour.
A torcida
pequena dos clubes do subúrbio ou do interior é um dos problemas a serem
enfrentados. Ou seja, é preciso criar estratégias de marketing para que o
bairro e a cidade abraçasse o time, mesmo sabendo que o mesmo seria o segundo
time do coração do torcedor. Para além da identificação sentimental clubística,
poderíamos ter uma aproximação com o sentimento de pertencimento local e
regional. Valorização não necessariamente criada ou inventada, mas
ressignificada.
A final do
Campeonato Paranaense, a despeito da incompetência dos clubes grandes da
capital, é um bom exemplo da possibilidade de uma bela “festa do interior”,
mobilizando duas cidades (Maringá e Londrina) em torno do futebol.
Mais: alguém
duvida do sucesso de um estádio pequeno ao receber um clube grande, por
exemplo? A transformação de um simples jogo de futebol em um evento local é um
dos desafios do marketing esportivo que é ignorado e negligenciado por parte
dos dirigentes de futebol.
Outro grande
entrave para o desenvolvimento da qualidade técnica e organizacional destes
campeonatos, principalmente em relação ao fator público, é o afastamento das
arenas por conta dos pacotes de televisão a cabo. Em nome de um forte
patrocínio, os clubes abrem mão do público no estádio. Obviamente, me faltam
dados para avaliar a relação entre valor arrecadado com a transmissão televisiva
x valor não arrecadado pela ausência de um maior público presente, mesmo porque
este cálculo não é tão simples assim, tendo em vista os demais patrocinadores
que querem ver a sua marca estampada para todo o estado e até para o Brasil.
Talvez, as duas
formas possam conviver sem uma atrofiar a outra, desde que outras estratégias
pudessem ser criadas, como a possibilidade de contratação mais homogênea, como
o draft da NBA e a melhoria das
instalações dos estádios e dos centros de treinamento dos clubes.
O que se percebe
é que a questão dos estaduais não passa pela simplória discussão se são válidos
ou não e sim por uma maior reformulação do futebol brasileiro. Negar a
importância história destes torneios é esquecer que o futebol no nosso país se
desenvolveu a partir das grandes rivalidades regionais e locais, além de todo
um processo de interiorização da prática desportiva.
Em minha
opinião, todavia, as fórmulas atuais não resolvem os graves problemas deste
esporte e nem atendem os interesses dos clubes, sejam dos pequenos sejam dos
grandes. Estes poderiam utilizar os estaduais, para realizar uma melhor
preparação em torno dos campeonatos nacionais e internacionais vindouros, mas o
que acabam fazendo é poupar os seus jogadores principais, como vem fazendo, por
exemplo, o Atlético-PR e o Botafogo.
Enfim, a
pergunta do título deste post, continua sem resposta: a quem interessa a
permanência destes estaduais? Aos torcedores? De quais equipes? Será que os
times grandes abririam mão destes torneios? Se isto acontecesse, quais seriam
as consequências? Sem muitas respostas, lembro de um comentário do finado
Carlos Eduardo Viana, o “Caixa D’água” (ex-dirigente por muitos anos da
Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro): o dia em que reduzirmos a
participação dos clubes pequenos nos estaduais, os grandes vão se tornar
pequenos, em um processo autofágico. Concordando ou não com a ideia, é para
pensar.