quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Uma possibilidade para explicar o talento brasileiro

Sugiro o texto abaixo que pode ajudar nos a discutir o texto do Mosko. Trata de explicar o sucesso do jogador brasileiro através do futsal, que serviria como um simulador de vôo. Vale a pena a leitura.

O código do talento e o futebol brasileiro
Para autor Daniel Coyle, jogo no Brasil é diferente do executado no resto do mundo porque o país utiliza um equivalente esportivo ao simulador de voo. Ele se refere à influência do futsal
“Você se torna inteligente
graças aos seus erros”
(Provérbio alemão)

No meio acadêmico, podemos dizer que existem dois tipos de livros, os científicos (clássicos, densos e, muitas vezes, herméticos) e os de divulgação científica, escritos para todos os públicos, especialmente para os que não dominam as bases cabais do tema exposto.

Os livros de divulgação científicas muitas vezes viram “best seller”, e desse modo, o grande público que o lê, pela facilidade com que o tema foi tratado, arvoram-se em discorrer sobre o tema, como se tivessem lido todo o alicerce teórico que sustenta as possíveis afirmações e argumentações presentes neste tipo de obra.
Desse modo, depois deste prólogo, com todo o cuidado, quero abordar o tema principal de um interessante livro de divulgação científica que ganhei do professor João Paulo Medina, quando novamente nossas deleitosas conversas se enveredaram pelas sendas do inato e adquirido na detecção e formação de talentosos futebolistas.

O livro, como a maioria dos livros de divulgação científica, não foi escrito por um cientista, e sim por um jornalista. Denomina-se “O código do talento”, assinado por Daniel Coyle, o mesmo escritor do livro “A luta de Lance Armostrong”, que inspirou o filme “Hardball: o jogo da vida” (estrelado por Keanu Reeves).
Como o próprio título da obras revela, seu conteúdo aborda de forma interessante as questões relativas ao inato e adquirido nos prodigiosos talentos que cobrem o mundo nas mais diferentes áreas.
Contudo, por ser jornalista esportivo, Coyle destaca de forma enfática os talentos esportivos, depois de viajar o mundo constatando “in loco” todos os exemplos citados no livro.

A premissa básica de que Daniel Coyle parte é o fato de que grande responsável pelo sucesso da humanidade não está nos genes, nem na quantidade de neurônios, mas sim na espessura da mielina que recobre os neurônios e impede que os impulsos elétricos se percam, aumentando significativamente sua velocidade.
Coyle apresenta os resultados das pesquisas de vários cientistas, que começam a encontrar indícios interessantes no comportamento da mielina nos seres humanos, em especial nas pessoas que demonstram maior habilidade para resolver certos problemas.

Como disse, apesar dos resultados das pesquisas trazerem certas evidências pertinentes, ainda é cedo para o meio científico aceitá-las como verdade, derrubando os antigos paradigmas que versam sobre o assunto.
Porém, de forma arrojada, Daniel Coyle toma a hipótese como tese, e a usa de pressuposto para o desenvolvimento de sua temática principal.
Para esta ele destaca, de forma enfática, o fato de que a mielina aumenta, não por acaso e determinismo genético, mas sim em decorrência de treinamentos. Porém, não é um treinamento qualquer, mas sim um novo modelo, o qual ele vai chamá-lo de treinamento profundo.
Nas próprias palavras do autor: “O novo modelo mostra que as fábricas de talento têm êxito não porque as pessoas se esforcem mais, mas porque se esforçam do modo certo – treinando mais profundamente e ganhando mais mielina, e, portanto, mais habilidades.”

As fábricas de talentos que Daniel Coyle apresenta são localidades e/ou grupos de pessoas em que, indiscutivelmente, apresentam diferenciais na formação de talentos. Pode-se dizer indiscutivelmente devido aos fatos concretos, contudo, as explicações para estes fatos é que geram inúmeras especulações.
Como um verdadeiro aventureiro, o autor visita estes vários centros, diz ele: “Em dezembro de 2006, comecei a visitar lugares minúsculos que produziam um número estratosférico de talentos. Minha jornada teve início em Moscou, numa quadra de tênis em péssimo estado, e, nos 14 meses seguintes, levou-me a um campo de futebol em São Paulo, no Brasil, a uma escola de canto em Dallas, no Texas, a uma escola no centro histórico de São José, na Califórnia, a uma surrada academia de música na região de Adirondacks, em Nova York, a uma ilha dominada pelo beisebol, no Caribe, e a mais uma porção de locais tão pequenos, humildes e fantasticamente bem-sucedidos...”.

Obviamente, o que mais nos chamou a atenção para escrever esta crônica foi sua análise sobre o futebol brasileiro, para qual quero destacar um pequeno excerto, de modo a não correr o risco de contaminar o texto com minhas interpretações.

Portanto, nas literais palavras de Daniel Coyle, o segredo do futebol seria o treinamento profundo advindo de um jogo em particular: “Ou seja, o futebol brasileiro é diferente do futebol do resto do mundo porque o país utiliza um equivalente esportivo ao Link trainer (simulador de voo). O futebol de salão comprime as habilidades futebolísticas essenciais num pequeno espaço, situa os jogadores na zona de treinamento profundo, na qual vão cometendo erros que vão corrigindo, nunca deixando de criar soluções para problemas vivamente percebidos. Jogadores que tocam 600% mais vezes aprendem mais depressa (e sem se dar conta disso) do que aprenderiam na vasta e expansível extensão de um campo gramado. O futsal não apenas é a razão pela qual o futebol brasileiro é extraordinário. Os outros fatores tantas vezes citados – clima, paixão e pobreza – realmente importam. Mas o futebol de salão é a alavanca por meio do qual esses fatores transmitem sua força.”

Como meu objetivo com esta crônica não é debater o livro “O código do talento”, mas sim inquietá-los para lê-lo, despertando reflexões e provocações, que ultrapassam a curiosidade, e os colocam rumo à construção de conhecimentos significativos e pertinentes à pedagogia, pois a obra vai muito além do esporte, quero terminá-la destacando dois pontos para mim interessantes.
Um deles é o fato de que os estudos sobre a mielina estão avançados, mostrando, entre outras coisas, que ser talentoso depende, sim, de uma boa quantidade de qualificadas horas de dedicação (e não oração, nem muito menos “esperação” - licença poética – de que nasça um novo Pelé, ou mesmo que já existem jóias raras a serem descobertas apenas pelo olhar dos observadores).

O outro é o fato de que devido ao nosso complexo de vira-lata (para usar uma expressão usual de Nelson Rodrigues), talvez ainda encontre pessoas no mundo da bola alardeando aos quatro ventos de que os gringos descobriram a fórmula secreta de nossa “Coca Cola”, e contratem-no a peso de ouro para desenvolver a metodologia do futebol brasileiro para alguma esperta franquia de escola de futebol, de modo similar ao que fez o inglês Simon Clifford, hoje um milionário dono de equipe do futebol, que se enriqueceu vendendo franquias de escolas de futebol pela Europa, dizendo que em sua escola brasileira de futebol os alunos aprenderiam a jogar como os brasileiros.
Daniel Coyle, ao relatar o sucesso de Simon Clifford, destaca: “Ele bolou uma série de sessões de treinamento baseadas nas jogadas do futsal. Em sua maioria vindos de uma área empobrecida e difícil da cidade de Leeds, os pequenos jogadores começaram imitando os Zicos e os Ronaldinhos. Para criar a atmosfera adequada, Clifford punha samba para tocar num aparelho de som portátil”.
Portanto, a leitura passa a ser mais interessante, pois Daniel Coyle nos apresenta de forma clara e didática uma nova maneira de explicar o que nós já vínhamos há tempos dizendo, junto com o professor João Batista Freire, o professor João Paulo Medina, entre outros, sobre a tese da pedagogia da rua, dos estudos que versam sobre o padrão organizacional sistêmico, das teorias do conhecimento interacionistas, da zona de desenvolvimento proximal vigotskiana e do processo de equilibração piagetiano.

fonte: http://universidadedofutebol.com.br/2010/09/3,11270,O+CODIGO+DO+TALENTO+E+O+FUTEBOL+BRASILEIRO.aspx
Texto sugerido por EdsonHirata

terça-feira, 28 de setembro de 2010

A questão dos cambistas sob a nova ótica do Estatuto do Torcedor

Pensador italiano Cesare Beccaria, no século XVIII, já entendia que a criminalização seria a última opção e que o Estado deveria sempre buscar a regulamentação e a intervenção mínima
Texto de Gustavo Lopes Pires de Souza
Historicamente, eram considerados cambistas aqueles que se dedicavam ao câmbio nas feiras e nos núcleos urbanos no feudalismo. Cobravam taxas e para realizarem atividades como empréstimos, câmbio, emissão de títulos e pagamento de dívidas.

Eram bastante úteis à economia feudal, já que proporcionavam maior estabilidade às trocas comerciais, ao retirarem dos comerciantes os riscos do transporte de altos valores.

Com o passar do tempo, estes cambistas começaram a ser chamados de banqueiros, porque faziam empréstimos aos comerciantes mediante a cobrança de juros e criaram o sistema de pagamento em cheque.
Nos dias atuais, considera-se "cambistas" as pessoas que compram ingressos com antecedência para vendê-los posteriormente por um preço mais elevado para as pessoas que não puderam comprar o ingresso em tempo.

Durante os últimos anos vários estudos têm sido realizados a fim de diminuir a atividade dos cambistas nas partidas esportivas.
A atividade dos cambistas constitui crime contra a economia popular, previsto na Lei 1521/1951, em seu art. 2º, que diz serem crimes dessa natureza: transgredir tabelas oficiais de gêneros e mercadorias, ou de serviços essenciais, bem como expor à venda ou oferecer ao público ou vender tais gêneros, mercadorias ou serviços, por preço superior ao tabelado, assim como não manter afixadas, em lugar visível e de fácil leitura, as tabelas de preços aprovadas pelos órgãos competentes; não é claro e muito menos cumprido.

Apesar disso, as recentes alterações no Estatuto do Torcedor tipificaram a atividade do “cambismo” em seus arts 41-F e 41-G.
No primeiro caso, quem vender ingressos de evento esportivo, por preço superior ao estampado no bilhete será apenado com reclusão de 1 (um) a 2 (dois) anos e multa.
Já o art. 41-G, estabelece como crime, fornecer, desviar ou facilitar a distribuição de ingressos para venda por preço superior ao estampado no bilhete, com pena de reclusão de 2 (dois) a 4 (quatro) anos e multa.

Neste caso, a pena será aumentada de 1/3 (um terço) até a metade se o agente for servidor público, dirigente ou funcionário de entidade de prática desportiva, entidade responsável pela organização da competição, empresa contratada para o processo de emissão, distribuição e venda de ingressos ou torcida organizada.
Inicialmente, importante ressaltar que não é o tamanho da pena que irá impedir o ato ilícito, mas a repreensão policial e o fim da impunidade.

O pensador italiano Cesare Beccaria no clássico “Dos Delitos e Das Penas” ressalta que o castigo deve ser inevitável, mas que não é a severidade da pena que traz o temor, mas a certeza da punição ao defender que a perspectiva de um castigo moderado, mas inevitável, causará sempre uma impressão mais forte do que o vago temor de um suplício terrível, em relação ao qual se apresenta alguma esperança de impunidade. Ou seja, a prevenção dos crimes é melhor do que a punição.

Outrossim, o “cambismo” existe no mundo todo. E as copas do mundo de futebol já provaram isso. Em alguns países, inclusive, a prática de vender ingressos mais caros é válida. Os “cambistas” são cadastrados pela instituição que promoverá o evento e traz comodidade aos torcedores, pois evita que a fila. Por óbvio, cobra-se um preços mais altos por isso. Assim, lucra o evento e o “cambista” é um trabalhador comum.

O fato é que o Estatuto do Torcedor estabelece em seu art. 20 que os ingressos devam ser vendidos de forma organizada e transparente e a prática demonstrou a ineficiência das entidades de prática desportiva em fazê-lo.
Neste esteio, a atividade do cambista, desde que devidamente regulamentada, poderia trazer maior organização ao evento e comodidade aos torcedores, pois aqueles que não puderem ou não quiserem enfrentar filas poderão optar por pagar uma taxa a um trabalhador credenciado para receber seu ingresso sem enfrentar filas.

Destarte, o pensador italiano Cesare Beccaria, no século XVIII, já entendia que a criminalização seria a última opção e que o Estado deveria sempre buscar a regulamentação e a intervenção mínima.
Neste esteio, ao invés de se punir a atividade dos cambistas, perde-se a oportunidade de trazer uma roupagem mais moderna ao direito brasileiro regulamentando-se uma prática, ao invés de tipificá-la.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Os donos da grana

Bernardo Itri e Ricardo Perrone* - Revista Placar
Uma conferida nas escalações dos principais clubes brasileiros sugere que o futebol nacional está em período de vacas gordas. Sobram craques que abandonaram o exterior para ganhar salários milionários por aqui. Não só veteranos do porte de Ronaldo, Deco e Roberto Carlos, que já rechearam suas contas jogando na Europa, mas também gente que ainda tem lenha para queimar. Casos de Valdívia, Keirrison, Rafael Sóbis e Fred. Sem falar em Neymar, que rechaçou os milhões do Chelsea para seguir na Vila Belmiro.
Esse quadro, que dá a ideia de finanças equilibradas e cofres abarrotados, distorce a realidade. A maioria está se endividando como nunca. PLACAR fez um levantamento para saber quais clubes do Brasil mais gastam com salários de jogadores. Entre os líderes do ranking, estão gigantes que há décadas convivem com dívidas gigantescas, como Corinthians, Fluminense e Palmeiras. Apesar de transformarem o ato de pedir empréstimos vultosos num gesto corriqueiro, os cartolas bancaram um aumento desenfreado nos salários dos jogadores. Prova disso é a comparação dos pagamentos atuais com o último ranking dos salários feito pela PLACAR. Em junho de 2009, o segundo maior salário era o de Adriano: 362 000 reais. Com o mesmo vencimento, ele ocuparia, agora, a sexta posição entre os mais bem pagos do país.
Ainda maior foi a inflação entre os treinadores. Vanderlei Luxemburgo e Carlos Alberto Parreira tinham os salários mais altos: 500 000 reais. Hoje, eles estariam em terceiro no ranking.
O jogador mais bem pago do país não mudou: ainda é Ronaldo (com 1,8 milhão de reais mensais). No Corinthians, ele ganhou a companhia de Roberto Carlos (300 000 reais mensais) e continua convivendo com Souza (175 000 reais) e Edu (cerca de 200 000 reais). O clube até que economizou com a troca de Mano Menezes por Adílson Batista. O atual técnico da seleção ganhava 350 000 reais e seu substituto no alvinegro recebe 250 000 reais. Só que Adílson vai engordar seu salário com cerca de 50 000 reais por mês, graças a um antigo débito do Corinthians com ele, dos tempos de atleta.
Para os cartolas corintianos, o gasto com o Fenômeno não conta na folha de pagamento porque o grosso de seus vencimentos vem de contratos de publicidade. Mas o dinheiro precisa entrar no clube para chegar ao atacante, que recebe 550 000 reais do Corinthians. “O valor que ele ganha de patrocínio não entra na folha de pagamento, isso é marketing”, diz o presidente Andrés Sanchez. De patrocínio, Ronaldo gera 20 milhões anuais para o Alvinegro e embolsa 15 milhões. “É como se ele pagasse para jogar”, diz Luís Paulo Rosenberg, vice de marketing.
Apesar dos altos gastos e de ter uma dívida que supera os 100 milhões de reais, a diretoria corintiana afirma que a situação está sob controle e que fechará o ano com superávit.
JEITINHO BRASILEIRO
Em tempos de gastança, os cartolas usaram a criatividade para buscar dinheiro. Mas o Fluminense segue fiel à antiga fórmula de ter um parceiro rico, no caso, a Unimed. A patrocinadora banca 2,5 milhões de reais dos 4,2 milhões da folha de pagamento, segundo dados da diretoria — concorrentes acreditam que o gasto mensal chega a 5 milhões de reais. A parceira paga em média 80% dos salários mais altos. Os valores assustam. Deco ganha 550 000 mensais e Fred, 460 000.
O Internacional também aposta em parcerias. Apoiado pelo torcedor fanático e milionário Delcir Sonda, o Colorado não poupa em contratações. Repatriou Rafael Sóbis, que chegou para ganhar 300 000 reais mensais, e possui muitos jogadores recebendo acima de 150 000 reais por mês. Para o técnico Celso Roth, paga 300 000 reais. O título da Libertadores ainda lhe rendeu 1 milhão de reais de premiação.
Diferentemente do Flu e do Inter, o Palmeiras prefere inovar. A contratação de Kléber, por exemplo, só aconteceu porque o clube trocou de patrocinador. Colocou a Fiat no lugar da Samsung e pegou 7 milhões de reais antecipados. Mais engenhosa ainda foi a operação para trazer Valdívia. Para pagar o Al Ain-EAU foi necessária uma fiança bancária, uma vaquinha entre o grupo de sócios-remidos chamado Eternos Palestrinos e uma parceria com o conselheiro Osório Furlan Júnior, que adquiriu 36% dos direitos do chileno.
Apesar de usar métodos diferentes, o Alviverde não fica muito atrás do Fluminense em gastos. Só Luiz Felipe Scolari ganha 700 000 reais. “Não pagamos nem a metade do que ele ganha. Quem banca a maior parte é o patrocinador”, diz o presidente do Palmeiras, Luiz Gonzaga Belluzzo.
Entre os jogadores, Kléber é o recordista com 373 500 reais mensais. Nessa conta entram luvas e valores que recebeu pela venda de parte de seus direitos. No total, ele fatura 2 milhões de euros por ano, livres de impostos. Logo atrás, aparece Valdívia, com 299 500 mensais. Nesse valor estão 500 000 euros de luvas diluídos nos salários, em cinco anos. “Contratamos jogadores caros, mas negociamos outros que ganhavam bem, como o Diego Souza e o Cleiton Xavier”, diz Belluzzo.
A mão aberta do dirigente não combina com seu discurso quando assumiu o Palmeiras e pregou uma união entre os times para que fosse estipulado um teto salarial a fim de botar um freio nos salários. “O teto só funciona se todo mundo cumprir o combinado. Se você faz o teto sozinho, você se ferra porque os outros pagam mais e levam o jogador”, afirma o presidente palmeirense.
Belluzzo é ainda um dos maiores entusiastas de uma prática que a maioria dos clubes adotou: o alongamento de dívida. Os cartolas pegam um empréstimo alto num banco para saldar débitos menores com outros bancos. E passam a ter apenas um empréstimo maior para pagar. Como garantia de pagamento, dão cotas de TV, patrocínios e até rendas dos jogos. O Palmeiras, por exemplo, conseguiu autorização de seu conselho de fiscalização para pegar 39,6 milhões no BMG dando as cotas dos próximos cinco Campeonatos Paulistas como garantia. Se não pagar, o banco recebe o dinheiro direto da Globo. A estratégia é criticada pela oposição, que acredita que o dinheiro é usado para pagar (altos) salários atrasados. O clube chegou a dever pelo menos dois meses de direitos de imagem. Além disso, os opositores alegam que Belluzzo jogou a dívida para seu sucessor.
“Estamos reestruturando a dívida do clube. É melhor pagar uma dívida longa com taxas baixas que uma curta com taxas altas. A oposição não conhece isso porque é coisa recente. Vou deixar uma dívida menor para o próximo presidente”, assegura o cartola.
No Rio de Janeiro, a prática de comprometer as cotas de TV também está sendo usada. Os quatro grandes do estado deram como garantia as receitas de transmissão do Campeonato Carioca de 2011. “Os clubes se veem na necessidade de gastar mais a curto prazo. Não acho que esse é o melhor dos caminhos. Mas, se eles pedem o nosso aval para não afundar, temos que dar”, afirma o presidente da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro, Rubens Lopes.
Mesmo assim, o Vasco sofre com atrasos. No dia 20 de agosto, o clube pagou um dos dois meses que devia a seus jogadores. O time ainda tem que lidar com a penhora de sua renda para pagamento de dívidas trabalhistas antigas, uma delas para o atacante Euller. No clássico com o Fluminense, por exemplo, o time receberia 533 685 reais, mas pouco menos da metade desse valor foi penhorado.
Até quem se gabava de ter a casa arrumada, como o São Paulo, aderiu à moda. Recentemente, ofereceu pelo menos três anos de receitas de TV do Estadual para movimentar sua conta garantida, espécie de cheque especial.
O Tricolor, quinto que mais gasta, adotou outra prática entre clubes, em especial aqueles com altos salários de jogadores que rendem abaixo do esperado: emprestar atletas e continuar bancando parte dos vencimentos. Os são-paulinos ainda pagam 65 000 reais, metade do salário de Marcelinho Paraíba, emprestado ao Sport; e 50 000 reais para Washington, que ganhava 190 000 e está no Fluminense.
“As pessoas que me questionam sobre o Washington falam que ele está marcando gol no Fluminense. Mas a transferência foi interessante para nós, pelo momento que ele vivia aqui”, afirma João Paulo de Jesus Lopes, diretor de futebol do São Paulo, clube que tem uma dívida na casa dos 100 milhões.
O São Paulo ganhou fôlego com a venda de Hernanes, por 13,5 milhões de euros, mas mantém algumas medidas austeras em sua parte administrativa. Quando um funcionário de fora do futebol pede demissão, a prioridade é evitar contratar outro para a função — contenção de despesas que destoa de caras contratações para salvar o time, como a de Ricardo Oliveira, que recebe cerca de 200 000 reais mensais.
Outro cartola que põe a mão no bolso para pagar quem já defende outras cores é Luís Álvaro do Oliveira Ribeiro, presidente do Santos. Ele ainda banca 40% do salário de Fábio Costa, emprestado ao Atlético-MG. “É mais inteligente fazermos isso que pagar 100%. Quando cheguei aqui, gastávamos 2 milhões por mês a mais do que arrecadávamos”, diz Ribeiro. Quando ele substituiu Marcelo Teixeira, a folha de pagamento do clube era de 4 milhões de reais por mês. Caiu para 2,8 milhões, mas voltou a subir e hoje está em 3,3 milhões. Isso sem contar o mínimo de 1,5 milhão de reais por ano (125 000 por mês) prometido a Neymar em contratos de publicidade. Se o clube não atingir esse valor, tem que pagar do próprio bolso. Sem esses 125 000 mensais, Neymar ganharia 180 000 reais — mesmo salário de Paulo Henrique Ganso e menos do que Keirrison, que recebe 200 000 reais.
Tantos exemplos de gastança descontrolada mostram que o alto poderio dos clubes vai até a página 2, onde estão os mecanismos que eles usaram para ter grandes jogadores e técnicos. Novas estratégias e parcerias, que enchem os olhos dos torcedores, por seus resultados a curto prazo, podem significar, mais adiante, crises gigantescas. É o dilema do futebol nacional, em que os clubes precisam se endividar para tentar conquistar algo ou assistir de longe aos concorrentes se destacarem…

domingo, 26 de setembro de 2010

Zé Eduardo quebra protocolo e não poupa elogios a Dorival Júnior

Como relatei aqui na semana passada, eu esperava que o caso Neymar não fosse somente uma estratégia de Marketing do Santos (algo que tiraria o foco da má fase da equipe da Vila e centraria suas atenções na disputa de forças acontecida fora dos gramados). Contudo, a decisão da diretoria supreendeu muita gente, principalmente porque como torcedores somos apaixonados e neste caso o mais importante é o que acontece dentro de campo. Quer me parecer que este poscionamento também foi assumido pelos dirigentes da equipe santista, que prefiriram deixar de lado tudo o que o Treinador Dorival Jr havia conquistado e manter na equipe o seu menino prodígio.
O treinador é parte de um conjunto, ele não ganha o jogo sozinho. Mas será que um jogador consegue ganhar? Quem é mais importante para a equipe o treinador ou o jogador? É uma ilusão querer responder esta questão de forma objetiva, pois não se trata de ou este ... ou aquele, mas sim da somatória de forças e, neste sentido quem perdeu foi o Santos.
Porém quem perdeu mais fomos nós brasileiros, que por alguns dias acreditamos que o futebol poderia servir de referência para  a nossa sociedade, pois ele havia mostrado que neste campo esportivo a lei é para todos e mesmo um jovem ídolo que teve um comportamento inadequado será punido. Docê ilusão! A vida contínua, para o Dorival, para o Neymar e também para nós (principalmente nós professores de Educação Física, que vemos inúmeras crianças com o cabelo cortado como o seu ídolo Neymar, só espero que eles não queiram ter o mesmo comportamento inadequado do jovem jogador, mas se ele não foi efetivamente punido, qual é a referência que podemos dar para estes adolescentes que estão em fase de consolidação da sua personalidade?).
Não. Prefiro nem pensar no que pode acontecer nos país da moralidade como "pregam"nosssos políticos.
Eu prefiro a sinceridade de jogadores como Zé Eduardo, o qual relatou que para os atletas o ex-técnico santista fará muita falta.Mas isto, o tempo irá mostrar (quem sabe o Luxemburgo não volta para resolver a situação???)
 Texto de Miguel A. Freitas Jr.

Samir Carvalho, iG São Paulo
Após a saída do técnico Dorival Júnior, os jogadores do Santos têm evitado comentar sobre a polêmica envolvendo o treinador e o atacante Neymar. O receio dos atletas é gerar um conflito com a diretoria do clube, que alegou ter demitido Dorival por excesso de autoridade. Porém, o atacante Zé Eduardo quebrou o protocolo e não poupou elogios ao ex-técnico do clube.
"Dorival era amigo do pessoal, todos sentiram falta dele, do Ivan Izzo (auxiliar-técnico), do Celso Rezende (preparador físico). Mas é erguer a cabeça e pensar no próximo jogo. Sabemos que não é um momento dos melhores", afirmou o atacante, que mais ficou no banco de reservas do que jogou sob o comando de Dorival Júnior.

Zé Eduardo, inclusive, negou que tenha xingado Dorival antes do jogo contra o Ceará, no Castelão, em Fortaleza, há duas semanas. Na ocasião, o atacante, que vinha atuando como titular, foi cortado até do banco de reservas. Questionado sobre o assunto, o ex-técnico do Santos não quis dar explicações.
"Saiu uma matéria ruim, que eu tinha sido afastado pelo Dorival por tê-lo xingado. Pelo contrário. Se não fosse o Dorival não estaria no Santos e sempre vou ser grato por ele. Nós torcemos por ele e só temos que agradecer", disse Zé Eduardo.

Zé Eduardo está confirmado como titular para o duelo contra o Cruzeiro, neste sábado, às 18h30 (de Brasília), na Arena Barueri, pela 25ª rodada do Campeonato Brasileiro. "Todo jogador tem intuito de ser titular da equipe. Teve mudança de treinador, o Dorival era amigo nosso, mas não mudou muito. O Marcelo (Martelotte) estava trabalhando com o Dorival e seguindo o que estava fazendo no ano. Estamos todos acreditando ainda", concluiu.

Texto sugerido por: Miguel A. de Freitas Jr.
Fonte:

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O BIRG, o CORF e a explicação da indústria do futebol brasileiro

A influência direta dos resultados no sentimento do torcedor e consequentemente no rendimento financeiro de um club.
Quando você vai a um estádio de futebol, você provavelmente sabe dizer por que você está indo. Agora, você sabe dizer por que os outros milhares de torcedores também estão lá?
Cada um tem lá sua razão específica pra torcer para um clube. Pode ser por influência familiar, por aversão ao time do vizinho, por causa de um atleta específico, por morar do lado do estádio e por outras tantas coisas mais. E todas essas coisas foram estudadas e identificadas.

Existem inúmeras razões pela quais uma pessoa escolhe torcer por um time. E existem outras mais que fortalecem ou enfraquecem o laço entre o torcedor e o seu clube. A mais comum delas foi denominada por alguns pesquisadores de Basking In Reflected Glory (BIRG), que significa algo como “orgulhar-se com a glória refletida”, que é o fenômeno que ocorre quando um time ganha um jogo e o torcedor diz (e sente) que “nós ganhamos a partida”. Com o BIRG, quanto mais um time ganha, mais orgulho ele gera e mais pessoas se apropriam do status de vencedor gerado pelas vitórias.

O BIRG é, evidentemente, o principal laço da relação entre clubes e torcida no Brasil. Isso acontece muito por conta da impossibilidade ambiental de desenvolver outras relações, principalmente dos laços mais profundos com a comunidade local de cada torcedor, já que as comunidades locais do Brasil são ainda muito recentes e carecem de maiores vínculos com os seus habitantes. Com isso, há pouco vínculo social entre clube e torcida, deixando que o BIRG se apodere da intermediação do processo.

Por conta do BIRG, quando o time está ganhando, a torcida se torna fanática, lota estádios e compra produtos. O grande problema é que o BIRG traz em sua essência outro processo psicológico oposto, que foi denominado de Cutting Off Reflected Failure (CORF), que significa algo como “romper com o fracasso refletido”, que ocorre quando o time perde e o torcedor diz (e sente) que “eles perderam a partida”. Com o CORF, quanto mais um time perde, mais torcedores se afastam do time para evitar absorver o status de fracasso. Ou seja, quando um time perde uma partida ou um campeonato, os torcedores param de consumir produtos e de ir aos estádios como forma de evitar parecer que eles também são perdedores. Com o BIRG, “nós ganhamos”. Com o CORF, “eles perderam”.

Como esses dois fenômenos são predominantes na relação entre times e torcedores no Brasil, os clubes ficam excessivamente reagentes ao sucesso em campo. Afinal, a derrota significa não apenas o fato esportivo em si, mas cria também um grande impacto nas receitas e na administração do ambiente político do clube. Com isso, exerce-se uma enorme pressão por sucessos imediatos e constantes, onde vitórias devem ser obtidas a qualquer custo e derrotas são suficientes para motivar mudanças completas na estrutura do clube. Isso acaba gerando uma situação em que é impossível desenvolver o mínimo controle financeiro e torna o fluxo de receitas e despesas algo absurdamente instável, impossibilitando qualquer manutenção de parâmetros de gestão de longo prazo.

O BIRG e o CORF explicam muito sobre como funciona a indústria do futebol brasileiro e por que o buraco financeiro vai ficando cada vez maior. A boa notícia é que existem métodos para tentar minimizar o impacto que esses fenômenos causam nos clubes. A má notícia é que aqueles que tem poder para aplicar esses métodos de controle são justamente aqueles que mais se deixam influenciar por eles.


fonte:http://www.universidadedofutebol.com.br/2010/09/3,11259,O+BIRG++O+CORF+E+A+EXPLICACAO+DA+INDUSTRIA+DO+FUTEBOL+BRASILEIRO.aspx
Texto sugerido por Edson Hirata

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Reunião da Uefa analisa evolução do futebol europeu na temporada

“Workshop” de Licenciamento de Clubes visa desenvolvimento no âmbito da gestão esportiva


Nos dias 9 e 10 de setembro foi realizado, em Genebra, o “workshop" de Licenciamento de Clubes e Fair Play Financeiro da Uefa, buscando tratar de aspectos financeiros dos clubes europeus. Foram reunidos especialistas de todas as 53 federações ligadas à entidade, dando oportunidade para uma discussão ampla deste setor bastante específico da modalidade.

Um dos pontos de discussão foi a publicação, em junho deste ano, dos regulamentos de Licenciamento de Clubes e Fair Play Financeiro da Uefa (edição de 2010). Segundo o portal da entidade, “estes regulamentos são considerados um instrumento essencial para que os clubes apresentem bons resultados operacionais e as suas diretrizes serão gradualmente implementadas nas próximas duas temporadas, antes de entrarem integralmente em vigor na temporada de 2013/14”.

A nova medida da Uefa determina que o equilíbrio financeiro dos clubes e de suas respectivas contas. As agremiações devem operar com meios financeiros próprios, ajudando com isso a restaurar a estabilidade no futebol europeu.

Dos 611 clubes que solicitaram a participação nas competições da Uefa, cerca de 20% não cumpriram todos os requisitos essenciais e cinco deles tiveram sua solicitação recusada.

"É importante que as federações compreendam todos os pormenores das novas regras. A sua função será a de informarem imediatamente os clubes acerca dos novos regulamentos porque os compromissos financeiros agora assumidos pelos clubes terão um impacto na sua capacidade para preencherem os novos requisitos no futuro", explicou Andrea Traverso em declaração ao portal Uefa.com.

FONTE:http://www.universidadedofutebol.com.br/2010/09/2,14220,REUNIAO+DA+UEFA+ANALISA+EVOLUCAO+DO+FUTEBOL+EUROPEU+NA+TEMPORADA.aspx
Texto sugerido por Edson Hirata

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

CRÔNICA DA SEMANA: Gato escaldado...

por Natasha Santos
Mestranda História UFPR
Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade

Difícil não lembrar a fatídica partida entre Fluminense e Coritiba, pelo Campeonato Brasileiro de 2009, que culminou em uma batalha entre policiais e torcedores. Mais difícil ainda seria esquecer a punição decretada para o time paranaense, que previa a perda de mando de campo por dez partidas mais o pagamento de multa e, como não poderia deixar de ser, reformar o estádio segundo determinadas normas de segurança.

Realmente, nada disso foi esquecido, sobretudo às vésperas da volta do Coritiba ao “Alto da Glória”. Os noticiários, em suas formas diversas, não pouparam fôlego em especular como se efetuaria a segurança do tão esperado jogo contra a Portuguesa, pela 22a rodada do Campeonato Brasileiro, que, em tese, romperia com as más recordações de outrora. Mas nos atentemos ao ponto curioso da questão...

A partida de retorno do clube alviverde, após quatro meses de suspensão, teve segurança reforçada, contando com a ação de cerca de 800 policiais militares, dos quais 230 ficaram dentro do estádio e os demais rondaram os pontos considerados de risco, como terminais de ônibus, por exemplo. Soma-se a isso, 250 seguranças que o clube prometeu contratar. Toda essa preocupação com o policiamento se deve à briga do dia 6 de dezembro, mencionada no início do texto, quando torcedores do Coritiba invadiram o campo. O curioso é que estamos falando de uma partida contra a Portuguesa: sem caráter clássico, tampouco decisivo, haja vista o momento da competição. Enfim, o único fator que torna essa partida especial é a volta da equipe ao seu estádio. Mas o melhor é a Polícia, que evita caracterizar o jogo como de risco e se conforta ao mencionar que não haveria muitos torcedores da Portuguesa e que, assim, seria mais fácil garantir a segurança dos torcedores do Coritiba.

Oras, se é para levar em consideração a briga do 06/12, convenhamos: quem ameaçaria a paz no estádio seriam os próprios alviverdes contra eles mesmos...
Por outro lado, se nos reportarmos à final do Campeonato Paranaense, em abril de 2010, poucos se recordarão que a partida foi nada menos do que um Atletiba, no Couto Pereira. Não bastasse o Atlético Paranaense ser o maior rival do Coritiba, ambos disputavam um título nas dependências do estádio que, embora liberado para a disputa do Paranaense, ainda estava interditado e contava com melhoras “paliativas” de segurança. Pois bem, na época, ninguém comentou, com o afinco das últimas semanas, a periculosidade de se realizar um clássico no então manchado Couto, sobretudo no que se refere ao policiamento. Refrescando a cansada memória: no total foram 400 policiais civis e militares supervisionando a partida; e a torcida rubro-negra saiu cerca de meia hora antes, a fim de evitar possíveis transtornos.

Como um clássico, aos fins do Campeonato, pode contar com metade do número de policiais mobilizados para esta partida entre Coritiba e Portuguesa? Curioso, curiosíssimo! Curitiba não pode fazer feio na Copa do Mundo – mesmo que seja para receber dois jogos pouco representativos, como em 1950 – mas mantenhamos o mínimo de coerência.

Definitivamente, o brasileiro tem memória curta – e o futebol não é exceção.

Fifa usará moderno sistema de venda de ingressos para o Mundial de Clubes

Nesta segunda-feira, a Fifa apresentou novidades para o sistema de vendas de ingressos para o Mundial de Clubes, que será disputado em dezembro nos Emirados Árabes. Pela primeira vez, será usada a tecnologia de código de barras e bilhetes eletrônicos.

Em cerimônia realizada nesta segunda-feira, o Comitê Organizador Local anunciou alguns detalhes da venda de ingressos para a competição. Os interessados devem adquirir as entradas pelo site www.FIFA.com/uae2010. As vendas começam nesta terça-feira.

Também foram anunciados os preços das entradas, cujos valores mínimos variam de cerca de R$ 9 (para os primeiros jogos da competição) até aproximadamente R$ 140 (final). Há descontos familiares em todas as categorias e para todos os jogos.

fonte:www.uol.com.br
Texto sugerido por José Carlos Mosko

domingo, 19 de setembro de 2010

Neymar é afastado por tempo indeterminado

 Neymar é afastado por tempo indeterminado
A diretoria do Santos acatou ontem o pedido do técnico Dorival Junior de afastar o atacante Neymar do jogo deste domingo, contra o Guarani, em Campinas, pelo campeonato brasileiro. O treinador exigiu a punição pelos atos de indisciplina cometidos durante o jogo contra o Atlético-GO. Amanhã, a situação do jovem será reavaliada para saber se ele enfrenta o Corinthians, quarta-feira, na Vila Belmiro, já que a previsão inicial era de que o afastamento durasse 15 dias.

A decisão foi tomada após uma reunião na manhã de ontem entre o técnico e membros da diretoria. Em nota assinada pelo presidente Luis Álvaro, o Santos disse entender que a multa imposta a Neymar era suficiente para que o assunto fosse resolvido.

- Após novos apelos do treinador, entendi que uma solução conciliatória deveria ser adotada, disse o presidente, reforçando a confiança no trabalho e na liderança de Dorival Junior.

- Reafirmamos nosso apreço pelo atleta Neymar e nossa confiança de que o episódio servirá para que ele consiga amadurecer e superar este momento de dificuldade, encerra a nota.

O empresário de Neymar, Wagner Ribeiro, demonstrou irritação ao comentar a decisão em sua página pessoal no Twitter. Para o agente os critérios deveriam ser os mesmos usados quando houve polêmica semelhante envolvendo o meia Ganso, que na final do Paulistão se recusou a ser substituído.

- Faltou respeito em ambos os casos. Um pede perdão, mas o treinador insiste em mostrar poder e não perdoa. Autoridade se impõe com critérios e firmeza. Recusa de substituição é afronta? Elogiar o erro depois é normal? E depois do elogio, chegar no vestiário e criticar é coerente? Não estou pondo lenha. Mas não posso ficar quieto ao ver alguém usar uma criança confessa e o pegar para Cristo, desabafou.

Texto sugerido por: Miguel A. de Freitas Jr.
Fonte:
http://extra.globo.com/esporte/jogoextra/posts/2010/09/18/neymar-afastado-por-tempo-indeterminado-325657.asp

O pesquisador Miguel A. Freitas Júnior comenta o caso: 
 Diante de tudo que tem ocorrido no futebol brasileiro, fico me questionando sobre a influência negativa que os cracks do futebol nacional tem proporcionado para as futuras gerações. Primeiro com os escândalos envolvendo os jogadores do Flamengo; a forma física ou talvez a deformação física do Fenômeno e as constantes crises de descontrole envolvendo um dos principais ídolos do futebol brasileiro.
Não sei se foi uma jogada de marketing do time da Vila Belmiro, mas atitude de multar e principalmente de afastar o Neymar do restante do elenco é uma atitude exemplar, pois em uma sociedade na qual tudo tem um jeitinho e as leis foram feitas somente para punir pessoas "normais", esta atitude mesmo que seja algo fugaz, serve como exemplo de um limite que pode ser observado para todas aquelas crianças que se espelham e desejam ser iguais ao Jovem crack da Vila Belmiro

sábado, 18 de setembro de 2010

Estatuto do torcedor e a venda de ingressos

Cabe ao torcedor pleitear de seu clube, ainda que judicialmente, o cumprimento de seus direitos; e à agremiação, é importante conscientizar-se que a torcida é o seu melhor patrimônio
por Gustavo Lopes Pires de Souza

Um dos grandes problemas enfrentados pelo torcedor brasileiro para frequentar eventos esportivos diz respeito à venda de ingressos, notadamente, em jogos importantes, tais como finais de campeonato ou da seleção brasileira.

Imensas filas, desorganização, cambistas e ingressos falsos são alguns dos entraves encontrados durante a venda dos bilhetes.

A fim de trazer melhores condições ao consumidor de eventos esportivos no Brasil, o Estatuto do Torcedor (Lei 10.671/2003), em seus artigos art. 20 ao 25, traz-lhe uma série de direitos.

É direito do torcedor que a venda de ingressos seja realizada com, no mínimo, setenta e duas horas de antecedência, excetuando-se nos casos em que as equipes sejam definidas em jogos eliminatórios ou que não seja possível prever a partida com quatro dias de antecedência, como ocorre na Copa do Brasil e nos play-offs da Superliga de Voleibol ou do NBB – Novo Basquete Brasil.

O processo de venda deve assegurar a agilidade e amplo acesso à informação e deve ser fornecido ao torcedor o comprovante de pagamento do ingresso, bem como é necessário que conste no bilhete o preço pago por ele, sendo vedada diferenciação de preços para ingressos destinados ao mesmo setor.

Como exceção à diferenciação de preço, tem-se o caso de venda antecipada de carnê para, no mínimo, três partidas da mesma equipe, ou quando a lei expressamente o previr, como na hipótese da meia-entrada estudantil.

Nas partidas de competições nacionais e regionais de primeira e segunda divisões, os ingressos devem ser vendidos em, pelo menos, cinco postos de venda “espalhados” pela cidade, não computando-se vendas à distância.

É dever da entidade mandante implementar, na organização e na emissão e venda de ingressos, sistema de segurança contra falsificações, fraudes e quaisquer práticas que contribuam para a evasão da receita dos eventos esportivos.

Os ingressos devem ser numerados e o torcedor tem o direito de ocupar o local correspondente ao número de seu ingresso.

As gerais, onde os torcedores assistem à partida em pé, não serão numeradas, mas o número de presentes será limitado de acordo com critérios de saúde, segurança e bem-estar.

Na primeira divisão da principal competição nacional e nas partidas eliminatórias de competição em âmbito nacional, os ingressos deverão ser emitidos por meio eletrônico apto a viabilizar a fiscalização e o controle do público e do movimento financeiro. Não se aplica esta exigência para estádios com capacidade inferior a vinte mil torcedores.

No que tange à segurança no estádio, a entidade responsável pela competição (via de regra as Federações ou Confederações) deverá apresentar ao Ministério Público laudos técnicos expedidos pelos órgãos fiscalizadores responsáveis pela vistoria no estádio, tais como ANVISA, Município, Corpo de Bombeiros, entre outros. Tais laudos deverão atestar a capacidade de público e as condições de segurança.

Na hipótese de o mandante colocar à venda número de ingressos superior à capacidade do estádio ou, independentemente da venda, havendo, de fato, presença de público superior à capacidade, a equipe perderá mando de campo por, no mínimo, seis meses, sem prejuízo de outras sanções.

Finalmente, nos estádios com capacidade superior a vinte mil torcedores, o acesso ao estádio deverá ser monitorado por imagem das catracas (roletas), sem prejuízo da obrigatoriedade de se manter central técnica de informações capaz de monitorar por imagem o público presente.

De maneira claudicante, os clubes de futebol brasileiros têm iniciado a implementação dos dispositivos do Estatuto do Torcedor atinentes à venda de ingressos.

O Internacional-RS, clube que, apesar de não ter a maior torcida do país, é o clube fora da Europa com maior número de sócios-torcedores, iniciou projeto de estruturação na venda de ingressos.

Em 2006, o colorado gaúcho iniciou alteração no sistema de venda de ingressos com emissão de bilhetes na hora da venda, sem pré-impresso, criação de banco de dados centralizados, vendas à distância, organização das filas e cadastramento de RG para limitação e controle de venda de ingressos.

O rigor do controle foi tamanho que, no jogo final da Copa Libertadores de 2006, a venda que nas fases anteriores era limitada a três bilhetes por torcedor, reduziu-se a um único ingresso por adepto.

Tais medidas adaptadas e corrigidas ao longo das situações observadas nos casos concretos levou, em 2008, o Sport Club Internacional a ser o primeiro e único clube do futebol brasileiro a receber o certificado de qualidade ISO 9001 .

Chama atenção o fato de o Internacional, após 2006, ter conquistado vários títulos, dentre eles os mais importantes de sua história, a saber: 2006 – Libertadores da América e Mundial de Clubes da FIFA; 2007 – Recopa Sul-Americana e Gaúcho; 2008 – Copa Sul-Americana e Bicampeão Gaúcho; 2009 – Copa Suruga Bank .

Outro bom exemplo é o São Paulo Futebol Clube, reconhecido como um dos maiores clubes do país, seis vezes campeão brasileiro, três vezes da Copa Libertadores e do Mundial de Clubes, que tem implementado sistema ágil de vendas, incluindo-se a aquisição de ingressos pela Internet e a utilização, desde dezembro de 2009, de lojas de fast food como postos de venda.

Em outras palavras, percebe-se que o tratamento qualitativo do torcedor e a boa estrutura externa contribuem para bons resultados esportivos.

As demais equipes, em regra, incluindo clubes bem organizados, como o Cruzeiro, de Belo Horizonte, que possui um bom “programa sócio-torcedor”, e o Palmeiras, de São Paulo, não possuem sistemas de venda de ingressos de qualidade, impondo uma série de contratempos ao torcedor.

De toda sorte, desde a vigência do Estatuto do Torcedor, muito já se evoluiu e os torcedores adquiriram melhores condições. Entretanto, ainda há muito o que melhorar, notadamente no que diz respeito ao sistema de vendas e à atividade dos cambistas.

Fatos como os ocorridos durante as vendas de ingressos para as partidas entre Flamengo e Grêmio, pela última rodada da Série A do Campeonato Brasileiro de 2009, são inaceitáveis.


Medidas como o fiel cumprimento da lei de proteção ao torcedor, organização das filas e informação aos torcedores acerca do número de ingressos disponíveis, teria evitado uma série de transtornos e os fatos lamentáveis ocorridos, inclusive, com imenso tumulto, somente dissipado pela policia com bombas de efeito moral.

Ante o exposto, cabe ao torcedor pleitear de seu clube, ainda que judicialmente, o cumprimento de seus direitos e ao clube é importante conscientizar-se que a torcida é o seu melhor patrimônio e, conforme exemplos de Internacional e São Paulo, a qualidade de tratamento do torcedor pode se materializar em títulos.

Fonte:http://universidadedofutebol.com.br/2010/03/1,14485,O%20ESTATUTO%20DO%20TORCEDOR%20E%20A%20VENDA%20DE%20INGRESSOS.aspx?p=4
Texto sugerido por: Edson Hirata

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Operação “Implosão do Clube dos 13″

Os cartolas que fazem oposição a Fábio Koff no C13 parecem ter se inspirado naquelas operações da Polícia Federal batizadas com nomes chamativos. Iniciaram um plano chamado “Implosão do Clube dos 13″. O objetivo principal é minar o poder da atual diretoria. Corinthians, Vasco e Botafogo estão entre os líderes da oposição.

Parte importante da ação é uma chuva de pedidos de clubes para negociarem diretamente com a Globo o próximo contrato de transmissão para o Brasileirão. O blog apurou que cerca de dez times já procuraram a emissora. Se conseguirem afastar o C13, eles vão tirar da entidade sua principal função.

Os representantes da emissora mais ouviram do que falaram com os dirigentes. Preferem não se meter publicamente na briga. A Globo precisa de todos os clubes juntos para assinar o contrato.

Outra iniciativa é fomentar a disputa entre os clubes por fatias maiores na divisão do dinheiro da TV no próximo acordo, que valerá de 2012 a 2014, mas já é discutido. O Santos é quem mais deve brigar por aumento.

Em outra frente, o corintiano Andrés Sanchez agiu pedindo a abertura das contas do C13 para saber os salários pagos pela entidade e o que é feito com cada centavo da associação. Como resposta, obteve um pedido para detalhar melhor suas dúvidas.

O Clube dos 13 pouco fala sobre o assunto publicamente. Alega que não ganha nada hoje para negociar as cotas de TV. No último contrato, cedeu por três anos para a Globo o direito de usar sua marca por R$ 8 milhões e parou de cobrar uma taxa de administração.

Internamente, a diretoria do C13 trata a oposição como menor e com menos força do que ela alardeia ter. Usa como argumento a derrota dos opositores na última eleição. O movimento atual é tratado mais como uma ação pessoal de Andrés, inimigo do são-paulino Juvenal Juvêncio, vice da entidade. O corintiano também é aliado de Ricardo Teixeira, que apoiou candidato derrotado à presidência do C13, Kléber Leite.

Disponível em: http://blogdoperrone.blogosfera.uol.com.br/sem-categoria/operacao-implosao-do-clube-dos-13/
Acessado em: 15/09/2010
Texto sugerido por Luiz Carlos Ribeiro

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Copa 2014: isenções fiscais para a Fifa devem chegar a R$ 500 milhões

         Em sua coluna de domingo na Folha de S.Paulo – “A família real voltou” – Juca Kfouri escreveu: “O representante da Fifa passa pelo Brasil e veta e aprova o que bem entende. E devemos festejar!
        Permita pegar carona no teu artigo, Juca, e lembrar que pouco se discute - e até o Congresso Nacional se omitiu - sobre os compromissos assumidos pelo Brasil, que implicará numa renúncia fiscal estimada pelo governo em R$ 500 milhões.
    
        Vejam alguns dos principais itens que o governo é obrigado a obedecer para não irritar a “família real”.
        A legislação vai vigorar de 1º de janeiro de 2011 a 31 de dezembro de 2015, ou seja, inclui a Copa das Confederações.
1.   Taxas e impostos alfandegários – isenção de impostos e outros encargos de importação e exportação para bens e mercadorias relacionados com as atividades das competições, incluindo  equipamento técnico das seleções de cada país e às redes jornalísticas de comunicação bem como equipamentos para escritórios, cuidados médicos e para marketing esportivo, entre outras atividades.
2.   – Isenção tributária – de taxas, impostos ou tributos concedida a estrangeiros para o exercício de atividades relacionadas às competições e desempenhadas pela Fifa, entidades associadas, times, equipes de arbitragem, redes jornalísticas de comunicação e comercialização de ingressos entre outras.
3.   Indenização  à Fifa e seus empregados, representantes, empregados e conselheiros em caso de danos, processos e reclamações que possam sofrer em atividades relacionadas às competições.
4.   Lei complementar – o Governo Federal apresentará ainda projeto de lei complementar isentando a Fifa do recolhimento do Imposto Sobre Serviços de qualquer Natureza (ISS), em níveis federal, estadual e municipal.
          Pronto, com tudo isso acertado e os estádios construídos com dinheiro público a bola já pode rolar. A Fifa festeja e o torcedor baterá palmas.
          Leia mais na coluna de Juca Kfouri:


Fonte: http://blogdocruz.blog.uol.com.br/arch2010-09-01_2010-09-30.html#2010_09-13_13_47_18-139474431-

Texto sugerido por André Mendes Capraro


quarta-feira, 15 de setembro de 2010

MPF emite parecer acusando TV Globo e Clube dos 13 de prática de cartel

Do UOL Esporte – Em São Paulo

O Ministério Público Federal (MPF) foi consultado pelo Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e emitiu parecer contra o Clube dos 13 e a TV Globo. O órgão público entende que as partes praticam o cartel na negociação dos direitos de transmissão do Campeonato Brasileiro.

O processo já tramita no Cade desde 1997 e cita até o SBT, que não entrou na briga pelos direitos de TV nas duas últimas negociações trienais. Com o parecer do MPF desta quarta, o Cade pode recolocar o assunto em sua pauta. Até o fim do ano, o órgão pode definir uma pena para a Globo ou o Clube dos 13.

A reportagem procurou o Clube dos 13 e a Rede Globo. A entidade esportiva não quis comentar o caso, enquanto a emissora ainda não tem uma posição oficial sobre o assunto.

O grande ponto questionável, segundo o MPF, é a cláusula de preferência da Rede Globo, que tem sempre o direito de igualar a proposta das rivais. Segundo Marcus da Penha, procurador regional da República e representante do MPF no Cade, o sistema não é legal.

“A prática teve efeitos anticompetitivos. O Clube dos 13 e a Globo limitaram e prejudicaram a livre concorrência ao usar a cláusula de preferência”, disse o procurador, em nota divulgada no site oficial do MPF.
Desde que o processo foi iniciado no Cade, outras empresas também reclamaram do sistema. A Record, por exemplo, abandonou a negociação de 2008 por entender que o C13 dava preferência à Globo, fato negado pela entidade.
A próxima negociação de direitos de TV do Campeonato Brasileiro está marcada para o primeiro semestre de 2011, quando serão acertados contratos dos próximos três anos.

Em entrevista ao UOL Esporte, Fábio Koff, presidente do Clube dos 13, adiantou que não quer que a Globo mantenha a exclusividade nos contratos.

Além disso, o dirigente disse que pretende dividir as propriedades de negociação do torneio. Dessa forma, diferentes emissoras poderiam comprar os direitos de TV aberta, TV fechada, pay-per-view, celular, internet, etc. Essa é outra crítica do MPF. Segundo o órgão, os direitos têm de ser negociados em três produtos diferentes, o que não acontecia quando a ação entrou em trâmite no Cade.

Disponível em: http://esporte.uol.com.br/futebol/ultimas-noticias/2010/09/15/mpf-emite-parecer-acusando-tv-globo-e-clube-dos-13-de-pratica-de-cartel.jhtm
Acessado em: 15.09.2010
Texto sugerido por Luiz Carlos Ribeiro

terça-feira, 14 de setembro de 2010

Máfia do Apito - Diante da ausência de leis específicas, corruptos não foram responsabilizados criminalmente

por Carlos Miguel Aidar e Alexandre Ramalho Miranda*

A “Máfia do Apito” foi o nome dado ao esquema de manipulação de resultados de partidas válidas pelo Campeonato Brasileiro e pelo Campeonato Paulista, ambos realizados na temporada de 2005, quando deflagrou-se o maior escândalo da história do futebol brasileiro.

A popularmente conhecida “Máfia do Apito” atingiu a credibilidade do futebol brasileiro como um todo, inclusive acarretou graves danos às entidades de administração do desporto, em especial à Confederação Brasileira de Futebol, em nível nacional, bem como à Federação Paulista de Futebol, em nível estadual, uma vez que tais condutas teriam sido praticadas em jogos válidos pelas competições organizadas por estas referidas entidades.

Porém, tal esquema de manipulação de resultados também teria atingido as entidades de prática desportiva, seus respectivos atletas e todos os torcedores que se sentiram lesados, principalmente aqueles que compraram ingressos e foram aos estádios na esperança de assistir um espetáculo esportivo sem qualquer tipo de parcialidade e corrupção por parte de quem detém os poderes para impor as 17 regras do futebol.

Os envolvidos foram os ex-árbitros de futebol Edílson Pereira de Carvalho e Paulo José Danelon, sendo que o primeiro pertencia aos quadros da Fifa e ambos foram selecionados para apitar jogos dos Campeonatos Brasileiro e Paulista de 2005. Este dois ex-árbitros de futebol teriam manipulado resultados para beneficiar o apostador Nagib Fayad em jogos de aposta eletrônica.

Tais condutas trouxeram consequências na esfera civil, penal e também no âmbito da Justiça Desportiva, a qual foi a primeira a se pronunciar sobre este escândalo, em conformidade com a norma constitucional aplicada ao desporto e também atendendo à celeridade inerente aos procedimentos instaurados na Justiça Desportiva. Assim, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) prontamente determinou a anulação dos 11 (onze) jogos apitados por Edílson no Campeonato Brasileiro, tentando, assim, restaurar um pouco do prestígio da disputa. Ato contínuo, Edílson e Danelon foram banidos do futebol, por meio da determinação do STJD que impôs a eliminação de ambos dos quadros da Confederação Brasileira de Futebol.

Sem prejuízo da sanção disciplinar aplicada na seara desportiva, os três indivíduos envolvidos foram denunciados por crime de estelionato e formação de quadrilha. Entretanto, em 20 de agosto de 2009, a 7ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça de São Paulo, no voto de relatoria do desembargador Fernando Miranda, ao julgar o Habeas Corpus nº 993.06.063932-3, determinou o trancamento da ação penal nº 1051/2005, uma vez que não teria havido qualquer crime praticado pelos denunciados.

Portanto, diante da ausência de tipificação, não houve a responsabilização criminal dos indivíduos que cometeram tais condutas tidas como manipuladoras de resultados, encerrando, assim, o desdobramento do caso na área criminal.

Entretanto, na esfera civil, detectou-se a questão mais complexa, na qual diversas teses foram levantadas e algumas demandas foram ajuizadas, em especial a Ação Civil Pública ajuizada pelo Ministério Público do Estado de São Paulo em face de Edílson Pereira de Carvalho, Paulo José Danelon, Nagib Fayad, Confederação Brasileira de Futebol e Federação Paulista de Futebol.

A ação tem por base o inquérito civil instaurado contra os réus Edílson, Danelon e Nagib, no qual se apurou que os ex-árbitros Edílson e Danelon, selecionados para apitar jogos dos Campeonatos Paulista e Brasileiro de 2005, manipularam resultados das partidas apitadas por eles para beneficiar o corréu Nagib.

Assim, o Ministério Público requereu a condenação dos réus a indenizarem os danos materiais e morais causados aos torcedores, invocando o Estatuto do Torcedor - Lei nº 10.671/2003, o qual os equipara aos consumidores, cujos direitos igualmente são protegidos pelo Código de Defesa do Consumidor - Lei nº 8.078/90.

Por outro lado, para os efeitos da Lei n.º 10.671/2003, equiparam-se a fornecedor as entidades de administração do desporto, responsáveis pela organização de determinada competição, razão pela qual tais entidades figuram no pólo passivo dessa ação civil pública.

Como argumento de defesa, as entidades de administração do desporto exploram a questão da não profissionalização dos árbitros de futebol e da ausência de vínculo empregatício entre esses e tais entidades, nos termos do artigo 88, da Lei n.º 9.615-98 (Lei Pelé).

A ação civil pública encontra-se ainda em fase de instrução, tendo sido efetivada a oitiva das testemunhas arroladas pelas partes, aguardando-se a decisão da Justiça de São Paulo.

Em contrapartida, foram ajuizadas, pela própria Federação Paulista de Futebol, outras ações de reparação de danos contra os ex-árbitros Edílson e Danelon, as quais foram julgadas improcedentes, sob o entendimento de que inexistiu o dano moral, por não existir vinculação da entidade com os atos ilícitos praticados, em tese, por indivíduos, isoladamente, sendo esses fatos de fácil compreensão pelo público.

Ademais, outras demandas foram ajuizadas por torcedores em face da entidade nacional de administração do desporto, em diversos Estados da Federação, pleiteando-se reparação por danos morais que supostamente teriam sido sofridos:

“Ressalte-se que a função do Poder Judiciário é dirimir conflitos reais envolvendo a vida e o patrimônio das pessoas, o que não é o caso, posto que uma partida de futebol é apenas uma forma de entretenimento, não devendo ser levada tão a sério” .

“Faz-se mister esclarecer, que a situação a que foi submetido o autor é inerente a uma partida de futebol e às peculiaridades do esporte. Com efeito, por mais que se admita a difusão do futebol e a influência emocional que este exerce sobre certos torcedores, o episódio que estes autos anunciam constitui fato típico e corriqueiro de tal prática desportiva, pelo que incompatível com qualquer espécie de ressarcimento” .

“Nessa esteira, não há que se falar em dano moral (...) porque não há qualquer comprovação do alegado dano moral de forma que se pudesse aferir um sofrimento exasperado, com base no homem médio, e que fosse passível de indenização, pois a mera sensibilidade subjetiva não tem o condão de tornar indenizável o que não o seria se qualquer outro indivíduo estivesse na mesma situação” .

“É preciso estancar a idéia de que todo e qualquer aborrecimento seja fonte de indenização por danos morais, fato que vem causando o abarrotamento do Poder Judiciário com demandas geradas, na maioria das vezes, por um simples mal-estar ou o mais comezinho transtorno. O dano moral é devido quando haja intensa interferência psicológica que afete os sentimentos íntimos do indivíduo”.

Portanto, tais precedentes obstam o ímpeto dos torcedores que buscam o enriquecimento sem causa, com base no suposto dano moral sofrido em decorrência da manipulação de resultados em 2005, sendo necessário lembrar que o campeão brasileiro daquele ano foi o Sport Club Corinthians Paulista, que terminou 3 (três) pontos à frente do segundo colocado, o Internacional de Porto Alegre, em virtude da anulação das partidas e designação de novos confrontos, fato que beneficiou o clube da segunda maior torcida do país, o que deve ser considerado pelo torcedor antes de se buscar a guarida do Poder Judiciário.

Nos dias de hoje, caso seja apurado um esquema de manipulação de resultados, tal como a “Máfia do Apito”, igual sorte não aguardará os responsáveis envolvidos, eis que a conduta foi recentemente tipificada como crime através dos artigos 41-C, 41-D e 41-E da Lei 12.299, de 27 de julho de 2010, os quais preveem penas de reclusão de 2 a 6 anos, sem prejuízo da respectiva multa que for imposta, nos seguintes termos:

“Art. 41-C: Solicitar ou aceitar, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem patrimonial ou não patrimonial para qualquer ato ou omissão destinado a alterar ou falsear o resultado de competição esportiva:
Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.
Art. 41-D: Dar ou prometer vantagem patrimonial ou não patrimonial com o fim de alterar ou falsear o resultado de uma competição desportiva:
Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.
Art. 41-E: Fraudar, por qualquer meio, ou contribuir para que se fraude, de qualquer forma, o resultado de competição esportiva:
Pena - reclusão de 2 (dois) a 6 (seis) anos e multa.”

Entretanto, como não há crime sem lei anterior que o defina, os envolvidos na “Máfia do Apito” de 2005 saíram ilesos de qualquer responsabilização na esfera criminal, inclusive em razão do princípio da irretroatividade da lei penal, sendo que, o que se espera para o momento, é que os indivíduos envolvidos sejam condenados pela justiça comum, o que deve ocorrer nos próximos meses.

*Carlos Miguel Aidar é Advogado, Sócio Conselheiro do escritório Felsberg e Associados. Ex-Presidente do São Paulo Futebol Clube. Fundador e primeiro presidente do Clube dos Treze. Consultor jurídico do Ministro Extraordinário dos Esportes Édson Arantes do Nascimento e do respectivo Ministério. Autor do Projeto de Lei nº 9.615/98. Medalha Marechal Deodoro da Fonseca outorgada pela Academia Brasileira de História. Membro do Conselho Consultivo do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo. Ex-Presidente da OAB-SP (2001/2003). Colar do Mérito Judiciário outorgado pelo Tribunal Regional do Trabalho da 2ª Região. Coordenador do livro Curso de Direito Desportivo. Professor do curso de graduação da cadeira de Direito Desportivo da Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie (2004).

*Alexandre Ramalho Miranda é Advogado do escritório Felsberg e Associados, pós graduando em Direito Desportivo pelo Instituto Brasileiro de Direito Desportivo. Membro associado do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo. Membro da Comissão de Direito Desportivo da OAB/SP (2010/2013).

Fonte: IBDD - www.ibdd.com.br
Texto sugerido por Edson Hirata

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Sobraram só 20% das cotas de TV

O atual contrato da TV Globo com o Clube dos 13 só termina em dezembro do ano que vem. Mas 80% dos milhões disponíveis para serem antecipados já foram entregues aos times. A maioria deles não tem receita para receber no ano que vem. Esse é um dos motivos que justificam a pressa dos cartolas em renovar o acordo. Com a renovação, pegarão uma quantia no ato e terão mais grana para antecipar.

O blog apurou que Internacional e Corinthians estão entre os poucos que ainda têm alguma receita da TV para receber em 2011. O contrato, assinado em 2009, previa que em três anos a emissora daria R$ 450 milhões para os clubes dividirem.

Em 2010, a Globo poderia antecipar até R$ 170 milhões referentes ao próximo ano. Já foram liberados R$ 136 milhões. A antecipação funciona da seguinte forma: a emissora e o C13 assinam um documento que o clube usa para pegar empréstimo em um banco. No dia em que a cota seria repassada ao time, ela é enviada para o banco.

O fato de quase todo o dinheiro já ter sido antecipado fragiliza os clubes na negociação do novo contrato, que pode ser com a Globo ou com outra emissora. O C13 espera assinar o próximo acordo em março. Mas a aposta na Globo, que não fala oficialmente sobre o assunto, é de que os clubes forçarão para o contrato sair em dezembro. Isso porque a maioria não tem mais onde conseguir dinheiro.

Fonte: blog do perrone - UOL
Texto sugerido por José Carlos Mosko

Crônica da semana - Por Jackson Mosko

“Cabeça de homem em corpo de menino”


Jackson Fernando Mosko


Foi assim o presidente do Santos, Luís Álvaro de Oliveira Ribeiro sintetizou a decisão de Neymar ao recusar a proposta do Chelsea no valor de 30 milhões de euros, e um salário milionário.

Mas o que levou Neymar a tomar esta decisão? Sabemos que o sonho de todo jogador brasileiro é jogar na Europa, seja por uma independência financeira e ou reconhecimento internacional, mas o certo é que no caso de Neymar ele foi muito bem assessorado, ou melhor, apoiado pela sua família.

O pai de Neymar é quem cuida dos interesses profissionais de Neymar, sua mãe é que toma conta do dinheiro, mas segundo eles a decisão sobre seu futuro coube a Neymar, claro que depois de ouvir vários conselhos. A equipe do jovem jogador, o Santos ofereceu ao jogador, um plano de carreira, que consiste num salário de aproximadamente R$ 600 mil por mês, além de uma participação financeira em ações publicitárias, bônus com possíveis convocações à seleção brasileira e um contrato com uma multa rescisória de 45 milhões de euros, tudo isso num contrato com validade de cinco anos.

A carreira de Neymar como jogador de futebol é muito precoce, quando ele tinha 14 anos foi convidado a ir fazer testes no Real Madrid da Espanha, mas o garoto teve problemas de adaptação, principalmente em relação à alimentação, e após uma semana, seu pai resolveu voltar ao Brasil, na volta Neymar passou a receber um salário estimado em 25 mil reais no Santos, valor superior a que muitos jogadores profissionais recebem no Brasil.

O caso de Neymar é diferente da maioria dos jovens jogadores, pois muitos não têm o acompanhamento familiar que ele teve nesta decisão. Na sua maioria os jovens jogadores saem de casa muito cedo e ficam dependentes de empresários e clubes que comandam suas vidas profissionais e pessoais, e quando surgi uma oportunidade para jogar fora do país, não somente na Europa, dificilmente recusam, pois os valores são sedutores e também abrem a possibilidade do clube ou empresário ter um retorno financeiro com o investimento feito no jovem atleta. Porém, não é levado em consideração se este atleta irá se adaptar, se conseguirá ficar num país com uma língua, cultura e hábitos diferentes, nesta hora, na maioria dos casos o dinheiro fala mais alto.

O que fica deste exemplo de Neymar, é que um jogador bem assessorado fora de campo, provavelmente conseguirá um sucesso profissional e financeiro maior, pois estará preocupado somente com os problemas dentro de campo, podendo exercer com mais tranqüilidade sua profissão. Espero que esta atitude de Neymar possa contagiar outros craques brasileiros a ficarem no Brasil, o que com certeza enriqueceria o futebol nacional, porém, ainda acho que isto está longe de acontecer, pois o poder financeiro e a organização dos clubes internacionais, principalmente os europeus é muito superior ao dos nossos clubes. Mas, esta é uma questão para uma próxima discussão.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

A marca "Timão"

Como na semana que passou o Corinthians comemorou o seu centenário e um dos fatos mais importantes foi a confirmação do seu estádio, eu indico para esta semana uma matéria e um vídeo que mostram a forma com que este assunto vem sendo tratado e que nos fornece indícios de quanto pode valer a marca de um clube.

Veja o vídeo


Leia a reportagem

Vídeo e texto sugeridos por Miguel A. Freitas Júnior
Fonte:
http://www.youtube.com/watch?v=U3Rw64oKa_c
http://esporte.uol.com.br/futebol/copa-2014/ultimas-noticias/2010/09/09/projetista-diz-que-estadio-corintiano-foi-planejado-para-roubar-publico-da-tv.jhtm

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Vídeo - Armando Nogueira

 Vídeo do Globo Esporte homenageando Armando Nogueira.
Quer assistir?clique aqui

Vídeo sugerido por André Mendes Capraro

terça-feira, 7 de setembro de 2010

O jogo proibido

Os entraves sociais são um problema sério em todos os setores de nosso país, não só no futebol
Uma rede importante de televisão aberta, em seu telejornal de horário nobre, iniciou nesta segunda-feira uma série de reportagens que mostra o “outro lado do futebol”, intitulado “O JOGO PROIBIDO”. Nele relata os escândalos e envolvimento de atletas da modalidade com os submundos, promiscuidades e tudo mais de ruim que pode se julgar socialmente e politicamente incorreto.
Abrindo um parêntese, devo dizer que esta é uma questão super relevante de debate e o fiz em algumas oportunidades, inclusive em textos e colunas aqui neste portal, que se refere à responsabilidade dos clubes na educação de jovens jogadores para os tornarem melhores cidadãos, ou seja, referência para aquelas pessoas que os idolatram e tem os atletas como modelo de conduta a seguir.
Mas desta feita vou inverter um pouco os papéis e pensar que o futebol como um todo é uma enorme corporação (o que na verdade é...). Vamos falar então em “Futebol S.A.”, formado pelas entidades de administração e prática desta modalidade. Se a “Futebol S.A.” fosse unida de fato, operando em um mercado de acordo com sua missão, visão e valores, deveria, perante informações que denigrem sua imagem corporativa, exercer uma força contrária para reverter aquilo que a opinião pública traduz sobre suas atitudes.
Longe de querer defender a atitude repugnante de algumas estrelas de nosso futebol. Reforço: bem longe disso, até porque concordo que algumas barbáries cometidas não fazem parte daquilo que defendemos como socialmente responsável e correto por cidadãos. Apenas fico impressionado como a opinião pública trata, em inúmeras situações, o futebol à margem da sociedade.
Pegam depoimentos de “mulheres da vida”, como é o caso da reportagem ora comentada, que relatam histórias espetaculosas havidas com jogadores e envolvimento com drogas como uma verdade fim. Maquiam reportagens como se isso acontecesse apenas no ambiente dos jogadores de futebol e que a culpa toda está centrada única e exclusivamente nos clubes, por formarem incorretamente seus craques.
Acredito que haja sim um distanciamento dos clubes daquilo que chamamos de educação esportiva para a tal educação social, sendo que eles têm sua parcela de culpa. Também não estou aqui para dizer se o que a série de reportagens mostra é verdade ou não, mas sim para, se é fato tudo o que ocorre no meio do futebol, é fácil imaginar que isso acontece em todos os graus da nossa sociedade.
Não sejamos hipócritas em afirmar (e acreditar) que é porque os atletas são provenientes de classes econômicas inferiores e depois percebem elevados vencimentos, não tendo limites sobre suas ações posteriormente junto à sociedade como um todo. Jogadores de futebol não são aberrações da natureza, tal e qual muitas vezes a mídia os trata.
A necessidade de educação, sociabilização e respeito ao próximo de crianças e adolescentes é um problema sério em todos os setores de nosso país, não só no futebol. É um problema de Estado. Na forma em que é conduzida a informação para o público, o senso comum vai traduzir que nenhum jogador de futebol tem valor social e que, em consequência disso, não vale a pena mais “perder tempo” (e dinheiro) com ele(s), comprando ingressos para ver seres irresponsáveis que saem do jogo e vão para prostíbulos ou “encher a cara”.
Esse tipo de mensagem é péssima para a indústria do esporte e do futebol em particular, podendo ter efeitos nocivos no médio-longo prazo para os negócios, a comercialização da imagem dos jogadores, a venda de direitos de transmissão, a constituição de produtos licenciados etc., devendo ser combatida, em ações preventivas e também contrárias pela “Futebol S.A.”.
Ou a organização se une para transmitir mensagens mais positivas em relação àquilo que ela realiza e defende, protegendo sua imagem corporativa ou então as informações negativas, pouco a pouco, vão minar a intenção de investimentos públicos e privados.
Para interagir com o autor: geraldo@universidadedofutebol.com.br

Fonte: http://www.universidadedofutebol.com.br/Jornal/Colunas/3,11241,O+JOGO+PROIBIDO.aspx
Texto sugerido por Edson Hirata

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Crônica da semana - por Ernesto Marczal

Com a eliminação, ainda na primeira fase, na Copa do Mundo de 1966, na Inglaterra, o futebol brasileiro passou por uma crise de paradigmas quanto ao seu estilo de jogo, representado, na mentalidade corrente, sob o modelo denominado como futebol-arte. Diante do impasse do momento, técnicos, dirigentes, preparadores físicos, jornalistas e outros especialistas discutiam os melhores caminhos para o desenvolvimento adequado do futebol nacional sob moldes considerados modernos.
Elucidando este debate propomos a leitura do artigo de Zezé Moreira, ex-treinados do escrete nacional entre 1952 e 1956. O texto em questão foi publicado no livro Na Bôca do Túnel, de 1968. A obra reúne a opinião de vários especialistas, analisando e discutindo questões técnicas e táticas diversas, servido como forma de resposta as questões impostas ao futebol brasileiro no conturbado cenário do período.
Embora uma grande lacuna temporal se interponha entre o contexto de produção do artigo e os dilemas atuais do esporte, é interessante constatar que muitas de suas colocações são ainda recorrentes nos debates cotidianos sobre o futebol no Brasil.   
   
FUTEBOL-FÔRÇA E FUTEBOL-ARTE

Zezé Moreira

O futebol praticado pelo Brasil e por alguns países principalmente a Argentina, Uruguai, Chile e Hungria não é o bastante para se disputar uma Copa do Mundo. Os europeus, como é de conhecimento de todos, estão aplicando o futebol-força e vêm obtendo excelentes resultados. É bom explicar que o futebol praticado pelos europeus consiste em fôrçavelocidade e resistência. Êles treinam seus jogadores de maneira a mais apurada, a fim de conseguirem uma boa explosão. Sabemos que a velocidade numa jogada, com o emprêgo da fôrça e resistência, constituem o ideal, para qualquer time de futebol. Assim, estes três elementos: fôrça, velocidade e resistência constituem a base para o atual futebol da Europa. Aliás, para os jogos de uma Copa do Mundo, representa o ideal por diversos motivos, que todos sabem e conhecem. Aqui no Brasil  podemos praticar o futebol-fôrça, mas acontece que quase ninguém o aceita ou mesmo o admite.
Por que o futebol húngaro, apesar de estar entre os europeus que praticam o futebol-fôrça, não disputa  de igual  para igual com os demais?
Simplesmente porque o futebol-arte praticado pelos húngaros não oferece boa resistência frente ao futebol-fôrça.
O futebol força na requer muita beleza, não requer firulas, não requer jôgo acadêmico, mas sim procura um objetivo maior, que é disputar o lance com disposição e partir célere para as conclusões. Para a disputa de uma Copa do Mundo o ideal é o emprego do futebol-força. Alias é bom  explicar melhor: antigamente, uma Copa do Mundo era uma disputa esportiva, ganhava o melhor e não havia grandes problemas. No final da competição, rendiam-se homenagens ao vencedor. Qualquer que fosse o vencedor, o fato era motivo de satisfação geral. Os perdedores voltavam e procuravam treinar melhor, conformados, com vistas a outra Copa. Mas, hoje em dia, a coisa é muito diferente. Uma Copa do mundo significa outros interesses. È uma questão de honra para um país levantar o título. Os europeus não se conformaram e não se conformarão em perder uma Copa do Mundo. Êles ficaram contrariados em 1950, quando o Uruguai levantou o título, e muito mais quando o Brasil foi bi-campeão, vencendo em 1958, na Suécia e, 1962, no Chile.
De outro lado, o europeu descobriu a pólvora, quando o Brasil venceu duas vezes com o emprego do futebol-arte. Como êles não podem igualar o futebol no mesmo sistema, empregaram um outro, que todos conhecem como o futebol-força.
Agora as equipes européias, com exceção da Hungria, estão praticando, e muito bem, este estilo de jogo.
Em 1966, nos apresentamos no Campeonato Mundial com o mesmo futebol praticado em 58 e 62 e por isso não conseguimos bom resultado. Não só o Brasil, como também outros países. Uma coisa precisa ser bem esclarecida. O futebol- força não é brutalidade, não é violência, mas simplesmente muita luta, muito combate. Não só velocidade nas jogadas, com a bola rolando o mais depressa possível ou mesmo a velocidade com o homem com a bola. È ainda rapidez nos lances, deslocamentos rápidos, espírito de luta, de equipe, de conjunto. Muita luta mesmo. Tudo isso aliado a um excelente preparo físico e técnico.
O Brasil e demais países que estão praticando ainda o futebol-arte podem aspirar alguma coisa numa Copa do Mundo, mas têm que se ajustar ao novo estilo. Temos de modificar os métodos para fazer frente ao futebol que os europeus estão praticando.
Dificilmente um país levantará uma Copa do mundo praticando o futebol-arte, pois existe já uma arma para neutralizá-lo.
Um outro fator de grande importância é a arbitragem. No Brasil, principalmente, temos arbitragens frágeis. Ao invés de trazermos juízes estrangeiros para estagiar no Brasil, deveríamos mandar os nossos para que vissem, aprendessem, observassem como se pratica o futebol lá fora e como agem os juízes locais. Isto seria de grande valia, pois de volta, êles aplicariam no Brasil o que aprendessem. E isso significa um passo á frente n aprendizagem dos nossos técnicos, jogadores e demais desportistas.
Outra medida consiste em tarimbar o jogador brasileiro. nossos times de nossas seleções precisam jogar muito no exterior. Antes de 1958 e de 1962, fizemos muito isto.
Esta e outras medidas têm de ser adotadas para dar mais cancha, não só aos jogadores, como a juízes, médicos, dirigentes, treinadores, etc.
Nós, que gostamos muito de inovações, precisamos jogar no exterior para adquirirmos tarimba, pois na próxima Copa do Mundo aquêle que não se tiver ajustado convenientemente está fadado ao fracasso.
Atualmente, há muitos fatôres a considerar, numa Copa do Mundo. Principalmente isto: a próxima Copa será Europa contra América do Sul. Haverá a questão de prestígio. O sentido patriótico. O lado financeiro. E outros aspectos que não eram levados em conta antes de 1958 e 1962.
O europeu leva a sério os preparativos e o planejamento para as disputas internacionais, principalmente de uma Copa em que estão em jogo os diversos aspectos de grande importância para os países disputantes.
È bem verdade que o futebol-arte não acabou e não deve acabar. Êle pode ser praticado em campeonatos regionais e até em campeonatos internacionais de pouca expressão. Mas numa competição de grande expressão como a Copa do Mundo, o futebol-arte perderá sempre para o futebol-fôrça.
Vejamos um exemplo: antigamente disputávamos o Torneio Rio-São Paulo, que tinha uma certa expressão. Com o passar dos anos, este torneio foi tomando um vulto enorme. Hoje, outros times de outros centros já estão participando da competição, que tem outro nome: “Roberto Gomes Pedrosa” ou, simplesmente, Robertão. Foi o torneio que se transformou devido o fato de ter adquirido expressão. Os interêsses são outros. Todos o querem disputar. Os clubes que participam do torneio querem vencê-lo à fôrça. Criou-se outra mentalidade entre os dirigentes, que organizam o torneio, entre os clubes que nêle tomam parte. E a evolução, o progresso.
Assim também evoluiu – e muito – a Copa do Mundo. Tomou um vulto extraordinário. O futebol é um esporte divulgado  e praticado em toda parte. O principal Campeonato Mundial está sendo jogado de quatro em quatro anos. O vencedor de uma Copa tem lucros financeiros e aufere dessa vitória benefícios incalculáveis. Por estas e outras razões, criou-se nova mentalidade em torno dela.
Vendo que era incapaz de vencer o futebol-arte, que constituiu para ele surpresa em 58 e 62, o europeu passou a usar o futebol-força. Isso deu certo, ele pode vencer, pois não encontra resistência no futebol-arte.
Por isso, repito: o Brasil, assim como outros países que desejarem sucesso em disputas internacionais, têm de ajustar a sua maneira de jogar aos novos tempos, e de adotar o futebol-fôrça.