sábado, 24 de outubro de 2015

Colóquio Futebol e Sociedade


O Núcleo de Estudos Futebol e Sociedade (NEFS/UFPR) organiza entre os dias 18 e 20/11/2015 o COLÓQUIO FUTEBOL E SOCIEDADE, seminário que tem o intuito de fomentar o intercâmbio de experiências acadêmicas entre alunos de graduação, pós-graduação, professores e pesquisadores através da apresentação e debate de pesquisas que tematizem o futebol em perspectiva de suas correlações políticas, sociais e culturais.

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Crônica da Semana
O torcer das almas: o futebol e os ritos de morte
            Jhonatan Uewerton Souza
           
            Alma torce? Fui tomado por essa indagação enquanto passeava por um cemitério campal. Gosto de observar as decorações nas sepulturas, de alguma maneira, o vivo que decora - a menos que o defunto tenha especificado os ornamentos do jazigo em testamento - imprime no morto uma narrativa daquela trajetória que se encerra. Até pouco tempo, essas decorações se resumiam em flores, imagens sagradas, fotografias do sepultado e, quando muito, epitáfios. Atualmente, com a flexibilização das regras em alguns cemitérios, o número de objetos de decoração foi multiplicado, estimulando o desenvolvimento de um mercado de produção e comercialização de ornamentos fúnebres. Nesse novo cenário, são comuns os enfeites que evocam determinadas identidades, servindo como apresentações à sociedade daquele que repousa em morte, junto com as informações clássicas, como o nome, a da data de nascimento e falecimento, e a fotografia.
            Num dos túmulos, os vivos fizeram questão de sublinhar o pertencimento do morto a um determinado ofício, nele lia-se: "Construí casas para os homens na terra e Deus construiu no céu, uma mansão para mim". Em outras sepulturas, aspectos distintos da vida do defunto eram evocados. Com alguma surpresa constatei que, em um número significativo de covas, havia pequenas plaquetas fincadas na grama, com os distintivos dos clubes de futebol adorados pelos sepultados. Nesses casos específicos, normalmente entre homens, a identidade clubística era alçada, pelos vivos, ao estatuto de identidade social fundamental daquele que jazia, um ponto de referência e resumo de vida, um dado biográfico essencial.
            Ali, onde o corpo não é mais o local por excelência de expressão do torcer, é que a identidade clubística parece demonstrar sua força. Ao projetar a persistência do ato de torcer para além dos limites da vida, os vivos parecem depositar no morto suas esperanças de infinitude. Essa vontade de eternidade expressa na crença de que o sujeito continua a torcer mesmo depois de morto - o que está inevitavelmente associado à ideia de vida após a morte - é a metáfora da própria eternidade da comunidade imaginada que se forma em torno de um clube de futebol. Enquanto essa comunidade existir, o morto, em sua faceta torcedora, existirá.
            Nesse momento, o espírito clânico da identidade clubística se apresenta com maior nitidez, e o que aparentemente é apenas um adorno numa sepultura, converte-se em um recado aos vivos, um guia de como se portar em vida. É como se o morto se reportasse aos vivos - na verdade aqui temos um diálogo entre vivos, já que aquele que enfeita o túmulo está, necessariamente, vivo - lembrando-os da importância do ato de torcer, já que, a própria sobrevivência do morto enquanto torcedor, depende da sobrevivência da comunidade imaginada que se forma em torno do clube. Manter essa comunidade "viva", garantir sua eternidade, é tarefa dos vivos. Uma espécie de dever que se assume com os mortos.
            Na verdade, esse fenômeno não é novo. Ainda que de maneira distinta, essa relação entre as agremiações de futebol e os rituais de morte, esteve presente desde os primórdios do futebol no Brasil. É comum encontrarmos na imprensa periódica das décadas de 1910, 1920 e 1930, referências à participação de agremiações de futebol em ritos fúnebres. Nesse período, as próprias hierarquias no interior das associações esportivas eram reproduzidas na hora da morte. Quando da morte de dirigentes dos grandes clubes, indivíduos pertencentes às elites urbanas, o trabalho de memória realizados pelas agremiações futebolísticas e pela imprensa esportiva, caminhava no sentido de ressaltar a importância daquele paredro para a construção e engrandecimento da associação a qual pertencia. Normalmente, nessas ocasiões, retratos e bustos do defunto eram inaugurados nas sedes sociais dos clubes, e extensas biografias eram traçadas nas páginas esportivas dos jornais. Nesses espaços de memória, edificava-se socialmente a narrativa, até hoje hegemônica, de que as elites foram os atores protagonistas no processo de introdução e estruturação do futebol no Brasil.
            De outro modo, na ocasião da morte de atletas ainda em atividade, especialmente daqueles egressos das camadas populares, era comum que os diretores e associados mais endinheirados do clube empreendessem ações filantrópicas, como auxílios para a construção de túmulos e doações em dinheiro para a família enlutada, afim de estimular o sentimento de gratidão, base do patriarcalismo e de seu  equivalente no universo do futebol, o "amadorismo marrom". Em meio ao processo de ampliação da participação de trabalhadores pobres, na condição de atletas não remunerados dos clubes e ligas de futebol, o momento da morte era um evento importante no qual as diferenças no interior do clube eram reafirmadas, o lugar de cada grupo social - diretores, sócios, jogadores, torcedores - na organização do futebol era sacramentado.
            Com o passar do tempo, a maior espetacularização do futebol, o desenvolvimento das grandes torcidas e a intensificação da idolatria aos ícones esportivos, os sentidos da morte no futebol mudam de figura. Os grandes atletas passam a ser velados como heróis nacionais, com cortejos fúnebres acompanhado por milhares de pessoas nas vias públicas, com direito a carro de bombeiro e cobertura da imprensa internacional. O fenômeno não se restringe aos jogadores de futebol, como Garrincha, mas também a atletas de outras modalidades esportivas, como o automobilista Ayrton Senna. Os bustos nos clubes não são mais dos dirigentes, mas dos atletas, que se transformam nos atores centrais da memória histórica do futebol.
            Os torcedores, ao seu modo, também se apropriam dos símbolos da morte, levando caixões aos estádios, ora para representar o óbito do oponente, ora para protestar contra o definhamento do próprio clube. Assim, há uma relação de troca simbólica entre os universos da morte e do futebol. Como vimos anteriormente, se os aficionados levam os símbolos da morte aos estádios, levam também os símbolos do futebol aos cemitérios, para demarcar sua paixão torcedora. Atento a esse capital simbólico representado pela ideia de eternidade da comunidade de torcedores de um clube, o Sport Club Recife lançou, em 2012, uma campanha de estímulo à doação de órgãos, com o simbólico nome de "Pelo Sport tudo. Até depois de morrer". A peça publicitária da campanha, premiada com o "Cannes Lion" no prestigiado Festival de Publicidade de Cannes, em 2013, traz os relatos de torcedores que tinham adquirido suas carteirinhas de "doador rubro-negro". Um deles, apelando à materialidade do corpo, afirma categoricamente: "Se alguém levar meu coração, leva o Sport junto". Outro, apostando na eternidade do torcer, sentencia: "Eu sou rubronegro até depois de morrer irmão. Até a alma é rubronegra!"            

segunda-feira, 28 de abril de 2014

Crônica da Semana
Será que ainda pode piorar?

Mestranda Gisele Dall'Agnol Musse

Terminamos a temporada passada do futebol nacional com dois clubes grandes rebaixados em campo para segunda divisão do Campeonato Brasileiro – Vasco e Fluminense –, porém começamos a temporada 2014 com apenas um deles realmente certo de que iria disputar o acesso, já que o outro retornou à primeira divisão por decisão do tribunal desportivo.
Embora “batido”, o tema polêmico envolvendo Fluminense e Portuguesa ainda gera discussão, seja em mesas redondas em programas esportivos ou em rodas de botequim. Justo ou não, esse não é o foco do momento. O que está em voga agora é o desfecho que a temporada 2014 pode ter. O Campeonato Brasileiro começou, o Fluminense disputou as duas primeiras rodadas, com duas vitórias. Já a Portuguesa, disputou apenas a segunda rodada da segunda divisão. Mas e a primeira? Ora, a primeira a Lusa entrou em campo contra o Joinville, mas “abandonou” a partida logo no início do primeiro tempo. Alegação? Estar cumprindo uma determinação judicial após um torcedor da Portuguesa ter entrado com uma ação contra a decisão do STJD de tirar pontos do time paulista no campeonato passado.
Esse ato de se negar a disputar uma partida pode ser prejudicial tanto para o futebol brasileiro – para a imagem do futebol e do esporte devido ao ato antidesportivo – como também para a própria Lusa, que corre risco de ser julgada pelo abandono de campo, correndo o risco de ser rebaixada para a terceira divisão, ou seja, o clube pode cair duas divisões em menos de um ano, através de duas decisões do STJD (embora eu, particularmente, não acredite nisso).
A grande ironia de toda essa história é que, apesar de ainda estarmos bem longe da decisão, o campeão brasileiro de 2014 pode ser o Fluminense, forte candidato ao título já que começou muito bem o campeonato. Será um final ainda mais polêmico para uma história que já deu muito o que falar.
Mas essa novela está cada dia pior e segue uma direção sem volta. E a principal vítima desse drama de gosto duvidoso é o próprio futebol, patrimônio cultural do brasileiro que está caindo em descrédito e que já sofre consequências com a falta de organização e gestão antiquada dos nossos dirigentes, os quais parecem se preocupar apenas em tomar decisões cercadas de interesses escusos, na maioria das vezes próximas a interesses políticos. E aí a falta de profissionalismo e/ou da visão de que o futebol é um produto que pode ser ainda mais rentável aos clubes e ao país se reflete nas arquibancadas, já que os estádios estão longe de atingirem seu público máximo. Talvez se os resultados do futebol fossem decididos em campo, os torcedores acreditassem na seriedade do principal campeonato do país.


quarta-feira, 23 de abril de 2014

Alemanha, o país do futebol

Eles tiraram o futebol do país da lama para transformá-lo no mais organizado e poderoso do mundo. Estádios lotados e novos craques despontaram de uma filosofia simples: o papel social do esporte é mais importante que qualquer troféu

por Guilherme Pavarin e Alexandre Versignassi
No comecinho dos anos 2000, o grandalhão Oliver Bierhoff era o maior - e bota maior - símbolo do então apático futebol alemão. Experiente, corpulento, de canelas longas, pouca técnica e quase nenhuma movimentação, o centroavante abusava dos seus 1,91 m para finalizar as jogadas do único jeito que sabia: pelo alto, entre os zagueiros, cabeceando firme para dentro das redes. O movimento era repetido à exaustão. Jogo a jogo.


Na Eurocopa de 2000, na Bélgica, os alemães sentiram a limitação bater na ponta das chuteiras. Atirados em um grupo com equipes fortes - Inglaterra, Portugal e Romênia -, caíram logo na primeira fase, marcando apenas um ponto e um gol. Vexame para uma camisa tricampeã mundial, que já tinha vestido Franz Beckenbauer, Karl Rummenigge, Paul Breitner. "Estávamos pensando exatamente como vocês brasileiros pensam hoje: que não precisávamos aprender nada. E fomos jogando cada vez pior, pior e pior", resumiu o próprio Breitner numa entrevista recente para o canal ESPN Brasil. Mas a queda em 2000 fez os alemães acordarem. Autoridades foram a público e tornaram o desempenho da seleção assunto de estado. O governo traçou um plano ambicioso: em uma década, a Alemanha deveria voltar a ser uma potência futebolística.



A missão, afirmaram os governantes, era fazer com que a população voltasse a se encantar com o esporte. O país, então, botou a mão no bolso. Em pouco mais de 12 anos, investiu cerca de US$ 1 bilhão em academias e centros de treinamentos para jovens. A ideia era usar esses CTs públicos para ensinar futebol com uma receita em duas medidas: 50% habilidade, 50% força - em vez dos 200% força que a seleção vinha aplicando.



Quem cuida de tudo lá é a DFB (Associação Alemã de Futebol), a CBF deles. Ligada ao governo, a associação alemã é dona de 366 centros futebolísticos. Desde 2001, crianças de 9 a 17 anos desenvolvem seus talentos em academias perto de suas casas, sem vínculo com clubes. Cerca de mil técnicos treinam 25 mil jovens. A DFB, na verdade, é tudo o que a CBF não é. A nossa Confederação Brasileira de Futebol é um órgão privado, e não possui nenhum projeto de formação de jogadores além das seleções de base (sub-15, sub-17 e sub-20), que só pinçam jovens talentos que já treinam em algum clube. E tem a corrupção - os escândalos se avolumam há décadas.



Enquanto isso, na Alemanha, a DFB tratou de reformar a Bundesliga - o campeonato nacional deles. A primeira foi impor uma política financeira rigorosa. Os clubes passaram a ter que enviar, três vezes ao ano, atestados de orçamento positivo. Analisados um a um, os casos deveriam seguir à risca um livro de 200 páginas que especifica normas financeiras.



Se aprovados, ok, podem jogar a liga. Do contrário, W.O.: perdem pontos e, se a "infração" administrativa for grave, nem entram em campo. Assim, nenhuma extravagância, como contratar um Neymar, poderia ser feita sem que o clube desse garantias de poder efetuar o pagamento. Tal controle foi capaz de praticamente extinguir as dívidas das equipes locais. Dos 30 times da Bundesliga, só dois têm dívidas. E o gasto com salários não passa de 50% da receita dos clubes; em outros países, o valor chega a 70%. No Brasil, a dívida dos 20 maiores clubes é de R$ 4 bilhões. Na Inglaterra, de R$ 11 bilhões.



Com esse pacotão, a missão alemã estava clara: gerar novos talentos e nutrir o futebol deles numa competição sustentável. Hoje, 13 anos depois, os resultados são sólidos. Bayern e Borussia Dortmund, dois dos grandes clubes da nação, foram os finalistas da Champions League, o principal torneio interclubes do mundo. Como numa boa lavoura, proliferam novos craques. Mario Goetze, de 20 anos, André Schürrle, de 22, mais Marco Reus e Thomas Müller, de 23, são alguns nomes que fazem Bierhoff e seus antigos companheiros parecem praticantes de outro esporte. Para completar, a liga do país tem o melhor público do mundo, média de 45 mil pessoas por jogo (40% são mulheres). Só a torcida do Borussia Dortmund tem média de 80 mil (!) por jogo. É uma final de Libertadores no Maracanã a cada domingo - coisa inédita na história do futebol. Não tem comparação: média de público do Brasileiro é 15 mil pessoas. A da segunda divisão alemã é de 17 mil. Nossa média, aliás, é só a 13º do mundo, atrás de China e EUA.



O fato é que nenhum país trata o futebol tão a sério quanto a Alemanha. E não é só para tentar ganhar troféus. Quando eles propuseram uma revolução no futebol, a justificativa foi a seguinte: só a bola seria capaz de unir a nação.



Faz mais sentido do que parece. A Alemanha é o terceiro país com mais imigrantes no mundo (atrás de EUA e Rússia). Mais de 20% dos 82 milhões de habitantes da Alemanha são ou imigrantes ou filhos de imigrantes. Num país onde até não muito tempo atrás era preciso ser "ariano" para ser cidadão, isso poderia virar um caldeirão de intolerância. Às vezes até vira. Mas o futebol ajuda a manter a coisa em fogo baixo, justamente porque nada na Alemanha abraçou mais imigrantes do que o futebol.



O Bayern de Munique, por exemplo, é um arco-íris étnico. No time mais tradicional da Alemanha, tem negro, branco, moreno, narigudo, careca, black power... Se botar o uniforme do Bangu nos caras, vira tudo carioca. Uma combinação de fazer Hitler revirar no túmulo - e, junto com as iniciativas que vimos aqui, de tornar a Alemanha tetracampeã no Brasil, o país da corrupção no futebol.

Disponível em: http://super.abril.com.br/esporte/alemanha-pais-futebol-752840.shtml


Talvez a Alemanha esteja mesmo merecendo o título de “país do futebol”, a forma com que os alemães organizaram do futebol na ultima década é digna de elogios. Para um país como o Brasil, com mais de 200 milhões de habitantes (projeção IBGE), que tem o futebol como esporte número 1, não é admissível ter uma média de 15 mil pessoas por jogo no campeonato nacional, ficando atrás da China e EUA, países com pouquíssima tradição no esporte.
Nos discursos de nossos governantes o amor pelo futebol, o orgulho por ser o país do futebol é sempre resaltado, nas redes sociais dos mesmos se vê o slogan “#CopadasCopas”. Mas a cada dia esse orgulho vem sendo ferido, a cada novo escândalo de corrupção, atrasos em obras e desvio de verbas. Uma derrota na copa pode comprometer esse “amor nacional”, e tudo isso poderia ser evitado se olhássemos a nossa volta e aprendêssemos futebol com outros países, com a Alemanha por exemplo. Mas somos o País do Futebol e só nos permitiremos aprender algo quando perdermos esse título.

Sugestão e comentário de Edilson

quinta-feira, 17 de abril de 2014

Por um futebol descentralizado na América do Sul
“Eu penso que não pode haver tanto time dentro da capital e no interior não ter. Primeira coisa: descentralizar o futebol. A gente não vai pros jogos porque não são muito interessantes, e alguns não vão porque não tem times para assistir.”
Essas palavras são do volante uruguaio Sebástian Eguren, nascido e criado em Montevidéu, crítico da problemática estrutura do futebol sul-americano que prioriza os clubes das capitais, marginalizando torcedores, patrocinadores e oportunidades vindas de regiões nem tão afastadas dos grandes centros.
O futebol cresceu junto com as principais cidades de cada país. Em cada polo comercial que nascia, um grupo de trabalhadores se divertia praticando o football. Na Argentina, o principal caminho marítimo era o porto de La Boca, onde se formou posteriormente o Boca Juniors por filhos de imigrantes e obreiros. No Uruguai, após chegarem pelo Rio da Prata, as importações rumavam para áreas mais afastadas da região portuária pela Central Uruguay Railway Company of Montevideo, composta por trabalhadores que formariam o CURCC, posteriormente chamado de Peñarol. Apesar das mercadorias atravessarem longos caminhos, o desenvolvimento ocorria nas grandes cidades, como Montevidéu e Buenos Aires. E essa estrutura se mantém hoje, com o olhar centrado às grandes capitais. Quem rompe com esta estrutura, porém, consegue bons resultados.
O futebol uruguaio é o mais centralizado da América do Sul: 14 dos 16 times que jogam a primeira divisão são de Montevidéu. Dos 19 departamentos, apenas três estão representados na primeira divisão. Talvez o dado que cause mais surpresa é o intervalo de 67 anos do primeiro torneio profissional disputado, em 1932, até 1999, quando o primeiro time de fora de Montevidéu jogou a primeira divisão. Pela primeira vez na história, Nacional e Peñarol sairiam de Montevidéu para jogar um jogo oficial dentro do Uruguai.
Quando há injeção de dinheiro, o futebol regional funciona e conquista. O troféu de campeão uruguaio demorou 73 anos para sair de Montevidéu. O estado de Rocha uniu todos times da região, investiu dinheiro no futebol local e nas categorias de base, montou um time do mesmo nome do estado e foi campeão do Apertura 2005. Porém, sem receber direitos televisivos e patrocínios como os centrais, acabou descendendo e tornou-se mais um time que um dia fez história, porém hoje está impossibilitado de repeti-la.
Qual é a principal cerveja argentina? Qual é o maior banco do Rio Grande do Sul? Qual é a companhia de energia do Rio de Janeiro? Patrocinadores de futebol buscam visibilidade. Alguns querem ser mostrados em todo mundo, outros querem apenas reafirmar suas posições em seus estados. Estar à mostra na camisa evidencia a marca de uma empresa. Sem dúvidas, você, leitor, respondeu Quilmes, Banrisul e Eletrobrás por ligar marcas ao que é mostrado nos campos de futebol. As empresas citadas são fortíssimas em seus respectivos mercados, porém buscavam o “share of heart” dos apaixonados pelo esporte. Quando há centralização do futebol, injeções de dinheiro no esporte são retraídas, ainda sim que as empresas queiram mostrar suas marcas, casos de todos times que disputam a primeira divisão do Uruguai e da Argentina que são de fora da capital, todos possuem patrocinadores locais, mas que se desgastam por não verem retorno. O último caso de grande exibição foi o Belgrano, em 2011, após ganhar do River Plate e rebaixar o gigante argentino, colocando em evidência o Banco de Córdoba e a Tersuave. O empresariado busca ajudar a equipe local, mas sem retorno, é impossível.
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A falta de patrocínios não resulta somente na má qualidade do futebol apresentado por times de fora das capitais, mas na péssima formação do futuro do país no futebol. Para a Copa de 2010, o Uruguai teve 13 jogadores nascidos em Montevidéu, dez no interior e um na Argentina. Porém, se não há equipes em seus respectivos estados, esses jogadores devem se deslocar às capitais, pela mão de empresários, em busca de um incerto sonho, deixando para trás estudo e família. Suárez e Cavani são grandes exemplos de jogadores que deram certo amparados pela sorte. Ambos saíram de Salto, estado no qual nunca teve um time de futebol na primeira divisão.
A saída do futebol das capitais para diversos cantos do país rende frutos futuros para o esporte local. Na Argentina, ocorre anualmente, após uma pausa de 31 anos, a Copa Argentina, disputada por 224 times de todas 23 províncias do país, em 11 sedes neutras pelos quatro cantos argentinos. A cada ano são revelados mais times do interior e quando os grandes times jogam nos rincões do país, os estádios lotam, casos de Catamarca, que recebeu a final de 2013, San Juan, palco da final de 2012, e Chaco.
Os campeonatos nacionais mais emblemáticos ocorrem na Colômbia e na Venezuela. Ambas disputadas desde os anos 60, com equipes de todo país, misturando capital e interior. Nesses dois países, ocorre um fenômeno particular: o crescimento conjunto do esporte em toda nação. Na Colômbia, o maior campeão nacional da história está na capital Bogotá, o Millonarios, com 14 títulos, porém o maior campeão fora da capital, o Atlético Nacional, de Medellín, tem 13. Caso parecido com a da Venezuela, o time da capital, o Caracas, é o maior vencedor com 11 troféus, porém o maior fora da capital tem sete, o Deportivo Táchira.
No Paraguai, por outro lado, 58% dos times na primeira divisão em 2014 são da capital. Historicamente, o Olímpia tem 39 tentos, o maior campeão nacional. O time mais glorioso de fora da capital tem dois títulos, o Sportivo Luqueño, também o último time campeão fora de Assunção, em 1953. Luque, no entanto, não pode ser considerada interior: a cidade está do lado da capital Assunção.
A Copa Venezuela nas últimas sete edições teve cinco campeões fora de Caracas. O país tem o futebol mais descentralizado da América do Sul: somente 22% dos times atuam na capital. O que talvez explique o crescimento do futebol do país nos últimos anos, para além dos investimentos estatais.
A preocupação pela descentralização do futebol na América do Sul começou em 1966 no Peru. Naquele ano, inaugurava-se o Torneio Descentralizado – nome que leva até hoje – composto por times de todo país. Apesar de ter 11 estados representados entre os 16 times, os títulos são centralizados nos times da capital Lima. Desde 1966, o Universitário foi campeão 16 vezes, o Sporting Cristal 14 vezes e o Alianza Lima oito vezes. O primeiro e maior campeão fora da capital foi o Unión Huaral, em 1976, que obteve dois títulos nacionais em sua história. Apesar da distribuição de times por todo país, a potencialização dos mesmos ocorre em Lima, onde estão concentrados 42 de 47 títulos após a descentralização do futebol peruano.
A distribuição do futebol nos países sul-americanos
Argentina - todo
ArgentinaCapital Buenos Aires
23 províncias
17% do país joga
70% dos times na capital: 
14 de Buenos Aires; 4 de Santa Fé; 1 de Córdoba, 1 de Mendoza
Maior campeão: River Plate, de BA, 34 títulos
Maior campeão fora da capital: Newells Old Boys, de Santa Fé, 6 títulos
Primeiro campeão fora: Rosário Central, de Santa Fé, 1971Último campeão fora: Newells Old Boys – Torneio Final 2013

http://impedimento.org/por-um-futebol-descentralizado-na-america-do-sul/

Comentário: 

Não tem como escapar, o grande tema da semana é a vitória do Londrina, numa final contra o Maringá, que reabilitou o outrora "clássico do café", hoje "clássico do soja". E, na província vizinha, o campeonato conquistado pelo Ituano em cima do Santos. As duas finais, com a expressividade das torcidas envolvidas no espetáculo - tanto em Maringá, quanto em Londrina, os estádios estavam lotados, ou melhor, faltando vagas - chamam atenção para um universo dos mais interessantes no futebol atual, aquele do, assim chamado, "interior" brasileiro. O tema não é novo, o próprio "Bom Senso F. C." já o colocara na pauta das discussões em fins do ano passado. Descentralizar o futebol, formar um calendário e uma estrutura organizativa que dê conta da vastidão do território brasileiro, dando condições de desenvolvimento para os pequenos clubes e, o mais importante, um mínimo de estabilidade empregatícia aos seus atletas. Tudo isso já é tecla batida, a novidade no texto que recomendo está em desprovinciar o tema, expandindo o horizonte de observação para o restante da América do Sul. Como se distribuí geograficamente a elite do futebol sul-americano? Existem alternativas para a descentralização do futebol de alto nível? Essas são questões suscitadas pelo texto.       

Sugestão e comentário de Jhonatan Souza

quarta-feira, 16 de abril de 2014


Entrega simbólica de arena tem afago a Andrés e homenagem a mortos


Bruno CecconSão Paulo (SP)

O Corinthians recebeu seu novo estádio da construtora Odebrecht de maneira oficial na manhã desta terça-feira – a cerimônia, realizada na própria arena, foi simbólica, já que as obras ainda não terminaram. Andrés Sanchez, principal articulador da empreitada, ganhou afagos de Mário Gobbi, atual presidente do clube, e lembrou os três operários que faleceram.
“A emoção é muito grande. Ficamos tocados e comovidos com esse ato simbólico. O Corinthians recebe da Odebrecht a sua casa. É uma casa particular, privada. O clube vai pagar por essa obra (com orçamento estimado de R$ 950 a 990 milhões). Vamos continuar trabalhando junto com a construtora, porque ainda há um trecho a percorrer”, disse Gobbi.
Em placas entregues a Mário Gobbi e Andrés Sanchez, a construtora se disse “honrada por entregar a obra ao Corinthians e à sua fiel torcida”, embora a construção ainda esteja inacabada. A situação não diminuiu o entusiasmo do atual presidente, que usou a maior parte de seu discurso para elogiar o antecessor.
“Quero cumprimentar o meu amigo, companheiro de muitas lutas no Corinthians desde os idos de 2002, a quem deleguei poderes irrestritos, ilimitados. Dei carta branca ao Andrés, meu presidente, meu líder, de quem tive orgulho de ser diretor de futebol. Fizemos uma pequena história juntos da qual tenho muito orgulho”, afirmou.
Gobbi foi eleito presidente com o apoio do grupo político liderado por Sanchez, mas ambos chegaram a ficar com relações estremecidas. Olhando nos olhos de seu antecessor no cargo, o atual mandatário do Corinthians se desmanchou em elogios pela nova arena.

 Frente aos inúmeros problemas e decepções que ocorreram (e, ainda podem ocorrer), na manhã do dia 15 de abril de 2014, o Corinthians recebeu o seu novo estádio da construtora Odebrecht de maneira oficial. Foi à realizada uma cerimônia “simbólica” na própria arena para celebrar o acontecimento, já que as obras ainda não terminaram. Como comentamos a algumas semanas, a cobertura, os camarotes, as áreas comerciais e a instalação dos telões do estádio estão inacabadas. Esses problemas estão preocupando a FIFA, pois na abertura da Copa, que será realizada nesta arena, devem estar os chefes de Estado de vários países. No sentido de nos situamos sobre a cerimônia realizada na “Arena Corinthians”, sugiro a leitura da reportagem “Entrega simbólica de arena tem afago a Andrés e homenagem a mortos”, escrita por Bruno Ceccon.


Sugestão e comentário de Bruno

terça-feira, 15 de abril de 2014

No álbum de 1974, seleções tinham como mascotes estereótipos de países


Na atual edição, o álbum da Copa do Mundo traz apenas o escudo de cada federação para representar as seleções em suas páginas, além de uma foto do time posado. Mas há 40 anos o método era um pouco menos politicamente correto, como mostra o blog "Old School Panini". Além do escudo de cada federação, havia uma espécie de mascote para as equipes, baseados em estereótipos dos países. O Brasil, por exemplo, era representado por um homem vestido com as cores do país e chocalhos nas mãos; a Argentina tinha um vaqueiro tomando chimarrão; a Alemanha Oriental tinha como mascote um homem dentro de uma caneca de cerveja; e a Suécia era representada por um viking. Confira abaixo!



Muito comum em vários anos de Copa do Mundo, os álbuns de figurinhas de futebol, que precisam ser vistos com uma fonte rica para discutirmos a História do Futebol e do marketing em torno deste esporte, hoje são controlados no Brasil pelo grupo empresarial italiano Panini.

Voltando à Copa de 1974, vemos que os mascotes procuravam explorar o inusitado, a caricatura e o que poderia haver de especial na cultura de cada país. Equívoco? Exagero? Porém, em minha opinião, nada mais do que a imprensa esportiva procura fazer em momentos de grandes eventos como este. Na verdade, o álbum de figurinhas, por trazer em si uma ideia lúdica, possuía uma visão infantilizada o que gerava pouca ou nenhuma discussão sobre os estereótipos nacionais. Se hoje os álbuns de figurinhas deixaram esta estratégia de lado, apresentando cromos mais sóbrios, mesmo porque o público alvo se modificou bastante (agora com a presença direta dos adultos como colecionadores), ainda temos esta visão de cobertura esportiva até hoje por jornalistas experientes ao retratarem as nações de um megaevento esportivo.

Sugestão e comentário de André Couto

Estaduais do interior...Pode isso?

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Em alguns Estaduais , sem sombra de dúvidas, este foi o ano do interior. Como bem explorou o nobre André Couto em sua crônica (leia aqui), diante do pífio desempenho de equipes de renome, déficit de público e desinteresse geral na competição, repetimos a cantiga da falência desses campeonatos e nos indagamos sobre a pertinência de sua realização.

Ainda que a questão continue sem solução, os campeões de São Paulo, Ituano em duelo com o Santos, e Paraná, o Londrina em disputa interiorana com o Maringá, obtiveram uma resposta particular em campo.Os Estuais serviram como êxito as suas torcidas na inexpugnável disputa com os grandes, quase todos, da Capital. Títulos que levantaram inúmeras críticas da mídia especializadas e aficionadas em geral, não sem razão. Afinal o abismo financeiro que separa os clubes nos certames regionais é tão ou mais impactante que aquele que separa as bilionárias potências europeias de seus pequenos conterrâneos nacionais ou de seus rivais sul-americanos (isso para não dizer africanos, asiáticos, entre outros). Exemplo disso é própria disputa do Mundial e Clubes, no qual o relativo desinteresse dos representantes europeus contrasta com o ávido apetite dos representantes sul-americanos, especialmente brasileiros. Um momento onde a lógica se inverte, o favoritismo muda de mãos e clubes tradicionais experimentam a sensação de ser considerados como possíveis zebras. Um jogo de escalas, enfim.

Entre as muitas críticas direcionadas aos estaduais a supressa com o sucesso de equipes menores, sobretudo em fases eliminatórias, acaba por negar um dos aspectos tão valorizado entre os apreciadores do esporte: a indeterminação. Ao colocar todo peso das conquistas sobre a ineficiência dos grandes, acabamos por desconsiderar a própria imponderabilidade do jogo. Em condições ideias, que vem se tornando cada vez mais frequentes, não há espaço para novos protagonistas. A centralização de recursos, da capacidade de angariar jogadores e aglutinar a atenção do público restringe-se o protagonismo da conquista a um número cada vez mais reduzido de equipes, obrigando os demais a conformarem-se com a posição de coadjuvantes permanentes. Quando algo acontece e a situação eventualmente se inverte, esvaziam-se as condições de realização e disputa do campeonato, bem como desmerece-se, mesmo que inconscientemente, o novo campeão. A determinação integra cada vez mais a própra integibilidade e valorização do jogo. Infelizmente, há cada vez menos espaço para que a célebre “caixinha de surpresas” seja aberta e nos mostre algo novo.

Comentários de Ernesto Sobocinski Marczal.

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Crônica da Semana

A invisibilidade da seleção feminina no ano da Copa “masculina”

Bruno José Gabriel

O futebol no Brasil é um fenômeno que chama a atenção. Dele se ocupam, cotidianamente, milhares de profissionais responsáveis pela sua produção enquanto “espetáculo esportivo”. Isto só é possível, porque essa modalidade é, indubitavelmente, a que possui o maior volume de capital simbólico dentre as que estão dispostas na estrutura do campo esportivo. Ou seja, porque o futebol é consumido pelos brasileiros, também cotidianamente (inclusive dos que não gostam de futebol), dentro de um sistema, que de forma alguma está descolado de outros aspectos sócio-culturais.
Esses fatores são facilmente corroborados e reverberados em época de Copa do Mundo, como se pode verificar atualmente. A mídia global (televisão, rádio, jornal e revistas) está realizando uma grande cobertura sobre os aspectos relativos a esse evento. Diariamente, especialistas e não-especialistas em futebol informam e comentam este esporte e as suas diversas ramificações sócio-culturais (a competição, a probabilidade de êxito da seleção brasileira, a convocação e a contusão dos jogadores, o legado social, a mortes dos operários, as obras dos estádios e as de mobilidade urbana), o que, acaba provocando uma superdose da temática.
Ao ultrapassar os limites do campo, especialmente nos períodos de Copa do Mundo, o futebol produz e reproduz afirmativas, crenças e valores culturais. Para se ter idéia dessa situação, basta observar a invisibilidade midiática da seleção feminina durante o ano da Copa “masculina”. Essa invisibilidade pode acabar influenciando, sobretudo as novas gerações, no que se refere ao futebol enquanto uma prática esportiva voltada eminentemente ao público masculino.
O país que espera ansioso pela Copa, e acompanha diariamente as suas publicações, mal sabe que entre os dias 08 e 18 de Março a seleção feminina disputou os “Jogos Sul-Americanos”, realizados no Chile. Este torneio foi à primeira etapa de preparação para o Sul-Americano, que dará vaga a Mundial de 2015 no Canadá.
Na primeira fase, as brasileiras empataram com o Uruguai (0 x 0), e ganharam da Venezuela (5 x 0) e da Colômbia (2 x 1). No entanto, perderam a semifinal para a Argentina, nos pênaltis (5 x 3). Ao vencerem, novamente, a Venezuela (2 x 0), obtiveram a terceira colocação.  

Se, a maior significação social do futebol feminino no Brasil, atualmente, perpassa pela visibilidade midiática, acredito que este seja um dos ciberespaços mais adequados para a divulgação desta modalidade! 

quinta-feira, 10 de abril de 2014

Depois de 40 anos o Atlético de Madrid retorna às semi-finais da Liga dos Campeões, da UEFA. E de forma espetacular, ao derrotar uma das equipas mais forte do futebol mundial, o Barcelona de Neymar e Messi.
Leiam abaixo íntegra da reportagem do jornal Público, de Portugal:

Atlético de Madrid, gigante entre os gigantes na Liga dos Campeões
TIAGO PIMENTEL09/04/2014 - 21:36

Equipa de Diego Simeone superiorizou-se ao Barcelona e fez história. Colchoneros acertaram três vezes nos ferros, venceram (1-0) e estão nas meias-finais da Champions pela primeira vez em 40 anos.

Koke e David Villa foram dois dos obreiros do feito do Atlético de Madrid REUTERS

Houve uma altura em que ser adepto do Atlético de Madrid era como uma maldição. Como se não bastasse terem de assistir às conquistas do rival Real Madrid, os colchoneros não lidavam bem com o próprio sucesso – foram do título de campeão à despromoção em quatro anos (1996-2000). Mas a temporada 2013-14 está a revelar-se mágica. E a magia ainda não se esgotou. Para além de liderar de forma completamente inesperada a Liga espanhola (com um ponto de vantagem sobre o Barcelona e três sobre o Real Madrid), a equipa de Diego Simeone está a escrever uma história de encantar também na Liga dos Campeões. O mais recente capítulo é digno de David e Golias: eliminou o Barcelona e regressou, 40 anos depois, às meias-finais da maior competição europeia de clubes.
O duelo entre Atlético de Madrid e Barcelona também foi um duelo entre dois treinadores argentinos. Oito anos de idade separam Diego “Cholo” Simeone e Gerardo “Tata” Martino. O primeiro, mais jovem (deixou de jogar em 2006) levou a melhor e provou que as equipas não se medem pela dimensão dos orçamentos que gastam ou das vedetas que integram. Os colchoneros garantiram de pleno direito a presença num grupo restrito onde têm a companhia de Bayern Munique (campeão em título), Chelsea e Real Madrid. E são os únicos deste lote que nunca venceram a Champions. Na sexta-feira ficarão a saber quem é o adversário nas meias-finais.
Tendo obtido na primeira mão um empate (1-1) no terreno do Barcelona, o Atlético de Madrid estava em ligeira vantagem. Mas nem por isso a equipa adoptou uma postura mais cautelosa na recepção aos blaugrana, a quem não ganhavam em casa desde Fevereiro de 2010. Mesmo sem poderem contar com Diego Costa, o homem-golo da equipa, os colchoneros entraram na partida de forma febril e dispostos a deixar rapidamente a eliminatória sentenciada.
A ousadia foi premiada. Logo aos cinco minutos, as bancadas do Vicente Calderón soltaram o grito que tinham preso no peito. A multidão rojiblanca entrou em ebulição com a vantagem no marcador: primeiro Adrián acertou nos ferros da baliza do Barcelona, mas David Villa recuperou o ressalto e voltou a colocar a bola na área. Foi a vez de Adrián cabecear e de Koke, sem oposição, fuzilar a baliza. O Atlético estava mais confortável – e mais perto do sonho.
Apesar de liderar o marcador, a equipa da casa não levantou o pé do acelerador. À imagem do seu treinador, um homem impulsivo e apaixonado, os colchoneros desfrutavam de cada momento sobre o relvado enquanto faziam as bancadas transbordar de emoção. O 2-0 esteve à vista aos 11’ – Koke fez um passe extraordinário para Villa, que acertou nos ferros da baliza. E Pinto voltou a agradecer a todos os santos aos 19’, quando o ex-Barcelona David Villa voltou a acertar na trave.
Ultrapassado o estonteamento inicial, o Barcelona esboçou uma aproximação à baliza do adversário. Os blaugrana estiveram perto do empate aos 13’, quando Dani Alves descobriu Messi na área, mas o cabeceamento do argentino passou a milímetros do poste. Messi voltou a desperdiçar uma oportunidade flagrante aos 24’, ao atirar ao lado após receber a bola de Neymar.
Logo no início do segundo tempo, o guarda-redes Courtois segurou a vantagem do Atlético, corajoso, ao tirar a bola dos pés de Neymar. Mas nem com isso os colchoneros se atemorizaram: Diego (65’) e Gabi (70’) testaram Pinto, que voltou a evidenciar-se no último minuto do tempo regulamentar ao travar o disparo do ex-Benfica e FC Porto Cristián Rodríguez.
A vantagem mínima foi, contudo, suficiente para a equipa de Diego Simeone carimbar um lugar nas meias-finais da Liga dos Campeões. O céu é agora o limite.

Acesso em: 10.04.2014

Sugestão e comentário de Luiz Carlos Ribeiro

terça-feira, 8 de abril de 2014



Crônica da Semana
Estaduais: Para quem mesmo?

André Alexandre Guimarães Couto


Fonte: <http://setedoses.blogspot.com.br/2012/04/morte-do-futebol.html>. Acesso em: 07/04/2014

A discussão em torno dos campeonatos estaduais parece não ter fim. A cada ano, a mídia esportiva e os torcedores percebem que os estádios estão muito vazios e a qualidade técnica, então, nem se fala.
Mas, teríamos soluções para tanto? Talvez não. Para vários jornalistas esportivos como Juca Kfouri, por exemplo, os estaduais não teriam mais espaço nos dia de hoje.
Concordo que os estaduais como o do Rio de Janeiro, por exemplo, são deficitários e com equipes em excesso. O paulista, inclusive, se superou com a fórmula de disputa atual, confusa e sem lógica. Porém, simplesmente acabar com os campeonatos regionais faria com que vários clubes pequenos, suburbanos e municipais ficassem sem recursos financeiros mínimos para sobreviver e para manter o seu elenco, dificultando ainda mais a profissão, que, para a maioria dos atletas, não tem muito glamour.
A torcida pequena dos clubes do subúrbio ou do interior é um dos problemas a serem enfrentados. Ou seja, é preciso criar estratégias de marketing para que o bairro e a cidade abraçasse o time, mesmo sabendo que o mesmo seria o segundo time do coração do torcedor. Para além da identificação sentimental clubística, poderíamos ter uma aproximação com o sentimento de pertencimento local e regional. Valorização não necessariamente criada ou inventada, mas ressignificada.
A final do Campeonato Paranaense, a despeito da incompetência dos clubes grandes da capital, é um bom exemplo da possibilidade de uma bela “festa do interior”, mobilizando duas cidades (Maringá e Londrina) em torno do futebol.
Mais: alguém duvida do sucesso de um estádio pequeno ao receber um clube grande, por exemplo? A transformação de um simples jogo de futebol em um evento local é um dos desafios do marketing esportivo que é ignorado e negligenciado por parte dos dirigentes de futebol.
Outro grande entrave para o desenvolvimento da qualidade técnica e organizacional destes campeonatos, principalmente em relação ao fator público, é o afastamento das arenas por conta dos pacotes de televisão a cabo. Em nome de um forte patrocínio, os clubes abrem mão do público no estádio. Obviamente, me faltam dados para avaliar a relação entre valor arrecadado com a transmissão televisiva x valor não arrecadado pela ausência de um maior público presente, mesmo porque este cálculo não é tão simples assim, tendo em vista os demais patrocinadores que querem ver a sua marca estampada para todo o estado e até para o Brasil.
Talvez, as duas formas possam conviver sem uma atrofiar a outra, desde que outras estratégias pudessem ser criadas, como a possibilidade de contratação mais homogênea, como o draft da NBA e a melhoria das instalações dos estádios e dos centros de treinamento dos clubes.
O que se percebe é que a questão dos estaduais não passa pela simplória discussão se são válidos ou não e sim por uma maior reformulação do futebol brasileiro. Negar a importância história destes torneios é esquecer que o futebol no nosso país se desenvolveu a partir das grandes rivalidades regionais e locais, além de todo um processo de interiorização da prática desportiva.
Em minha opinião, todavia, as fórmulas atuais não resolvem os graves problemas deste esporte e nem atendem os interesses dos clubes, sejam dos pequenos sejam dos grandes. Estes poderiam utilizar os estaduais, para realizar uma melhor preparação em torno dos campeonatos nacionais e internacionais vindouros, mas o que acabam fazendo é poupar os seus jogadores principais, como vem fazendo, por exemplo, o Atlético-PR e o Botafogo.
Enfim, a pergunta do título deste post, continua sem resposta: a quem interessa a permanência destes estaduais? Aos torcedores? De quais equipes? Será que os times grandes abririam mão destes torneios? Se isto acontecesse, quais seriam as consequências? Sem muitas respostas, lembro de um comentário do finado Carlos Eduardo Viana, o “Caixa D’água” (ex-dirigente por muitos anos da Federação de Futebol do Estado do Rio de Janeiro): o dia em que reduzirmos a participação dos clubes pequenos nos estaduais, os grandes vão se tornar pequenos, em um processo autofágico. Concordando ou não com a ideia, é para pensar.